A moderna advertência de Miranda
© Voz da Rússia
Outro
denunciador, um brasileiro chamado David Miranda, namorado do repórter
Glenn Greenwald do jornal The Guardian (que publicou os materiais do
ex-agente da CIA e da NSA Edward Snowden), foi inesperadamente detido no
aeroporto de Heathrow em Londres. A razão foi a alegada implicação de
Miranda na publicação de vazamentos de Snowden. Nem a aura
“não-tradicional”, nem a sua pertença à parte ativa da sociedade civil,
aparentemente amada no Ocidente, salvaram os dois defensores da verdade
de terem que passar algum tempo atrás das grades.
O
mais interessante na situação de Miranda foi a reação dos jornalistas
britânicos. Os cavalheiros das margens do Tamisa, invariavelmente homens
de princípios, não perdem uma chance de criticar, por exemplo, a Rússia
pelos problemas dos jornalistas russos ou, Deus nos livre, de
jornalistas britânicos em controles fronteiriços nos aeroportos. Mas, no
interrogatório de nove horas do brasileiro e no confisco de todas suas
mídias eletrônicas, eles viram de repente uma justiça superior. Eis a
opinião de Milo Yiannopoulos, editor-chefe do recurso de mídia britânico
Kernel:
“A
detenção desse David Miranda foi perfeitamente legal, porque ele
participou na investigação jornalística do jornal The Guardian, que lhe
tinha pago o bilhete. Ele era uma espécie de mula de carga para
transportar documentos destinados a seu namorado. Ele devia ser detido. E
se foi aplicada a lei certa ou errada para a sua detenção – pouco
importa. No final, em vez da lei sobre o terrorismo poderiam ter sido
aplicadas muitas outras leis.”
Como
diziam em outros tempos num outro país, “desde que haja uma pessoa,
haverá uma lei” para a condenar. É justamente esse tipo de situação que
parece ter acontecido com Miranda. Mesmo se os dados eletrônicos que ele
transportava foram obtidos por algum meio não muito legal, que tem isso
a ver com terrorismo, por suspeita de envolvimento no qual Miranda foi
detido?
Ironicamente,
nos Estados Unidos, existe desde 1966 um precedente básico – a
Advertência de Miranda. Um certo homônimo do brasileiro referido agora
não foi, na altura, informado de seus direitos durante a detenção, e por
isso seu testemunho foi excluído do processo. Trata-se do direito de
não se autoincriminar, do direito a um advogado e de outras limitações
importantes de arbitrariedade policial.
Em
filmes de Hollywood, cenas como: “Você pode permanecer em silêncio...”
parecem comoventes. Mas na vida real, o Estado já há muito que não segue
essas regras – nem nos EUA nem no Reino Unido. Como se vê, uma pessoa
não tem sequer de dizer uma única coisa.
Eis o que argumenta o advogado de Manning, o jurista David Coombs:
“O
caso do praça Bradley Manning é um ponto de viragem para a liberdade de
imprensa. Precisamos de reformas para que jornalistas não sejam
sujeitos a processo criminal por obtenção de informação – ou seja por
eles estarem fazendo corretamente seu trabalho de protetores da nossa
democracia. Para que os jornalistas recebam tais informações são
necessárias pessoas como o praça Manning. Pessoas que não têm medo de se
levantar e estão dispostas a arriscar sua liberdade para que nós
saibamos o que está acontecendo.”
A
julgar pela sentença de 35 anos aplicada a Manning, bem como a atual
caça a seus correligionários – a ativista de direitos humanos Laura
Poitras, o ex-agente da CIA Edward Snowden, e agora David Miranda – tudo
isso aponta para uma intenção muito clara das autoridades
norte-americanas e britânicas, tanto judiciais como executivas. É a
intenção de intimidar futuros buscadores da verdade, mostrar que, uma
vez que você entra no “clube de denunciantes”, sua vida nunca mais será
pelo menos normal.
“É
como uma dor de dentes”, diz Laura Poitras. Se você não pode ser
processado por ensinar os outros – e foi esse o objetivo declarado pelos
promotores no julgamento de Bradley Manning – sua vida pode ser
transformada em um inferno ao seu nome ser inserido em listas negras.
Hoje já é óbvio que nos EUA e na Grã-Bretanha estas listas funcionam
tanto em aeroportos, onde pessoas podem ser verificadas durante horas,
como quando alguém se candidata a um emprego. Assim, muitos dos que
permanecem em liberdade em breve terão inveja dos presos.
Em
tal situação, não são surpreendentes nem as inesperadas as “flutuações”
de sexo de Manning nem a inconsistência em suas ações: ora uma
confissão de culpa em relação a todas as acusações, exceto uma, ora a
proclamação numa carta ao presidente Obama da intenção de cumprir uma
“sentença pela liberdade”. Lembro-me quando há vinte anos chamei a
atenção de um dos membros do Comitê de Emergência russo para as
inconsistências em seu depoimento, ele respondeu: “Na entrada da prisão
você irá cantar ainda mais.”
Leia mais: http://portuguese.ruvr.ru/2013_08_23/A-moderna-advertencia-de-Miranda-5185/
Leia mais: http://portuguese.ruvr.ru/2013_08_23/A-moderna-advertencia-de-Miranda-5185/
ps: se você pensa diferente que o sistema, ou se vc faz a crítica da sua moralidade ou da sua i-legalidade, você vira um anormal. se você engolhe tudo, sem direito de opinar, se vc é domesticavel, você é o normal.
isto é um claro sinal, que não tem mais democracia nestes paises que se pratica tais atos, propios de um sistema fundamentalista.
isto é um claro sinal, que não tem mais democracia nestes paises que se pratica tais atos, propios de um sistema fundamentalista.
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