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quinta-feira, outubro 30, 2008

ONG colombianas denuncian 535 casos de ejecuciones extrajudiciales

El documento se elaboró en el foro ''Ejecuciones extrajudiciales: una realidad inocultable'', realizado este miércoles en Colombia, el cual adiciona que las cifras de ejecutados supone en promedio, una víctima diaria, de las cuales un 58 por ciento eran menores de 30 años.



Organizaciones No Gubernamentales (ONG) de Colombia, denuncian que 535 personas fueron ejecutadas extrajudicialmente en el país, desde el 1 de enero de 2007 al 30 de junio de 2008, información que difundieron este miércoles, a través de un informe.

El documento se elaboró en el foro ''Ejecuciones extrajudiciales: una realidad inocultable'', realizado este miércoles en Colombia, el cual adiciona que las cifras de ejecutados supone en promedio, una víctima diaria, de las cuales un 58 por ciento eran menores de 30 años.

La divulgación de estos datos coincidió con el anuncio del presidente colombiano, Álvaro Uribe, de retirar del servicio a 27 oficiales, entre ellos tres generales, por la desaparición de 20 jóvenes que habían sido dados por muertos en combate, cuando en realidad fueron reclutados y ejecutados por "las fuerzas del orden".

El informe sobre ejecuciones extrajudiciales fue elaborado por 13 juristas, periodistas, antropólogos forenses y expertos en derechos humanos de Alemania, España, Estados Unidos, Francia y el Reino Unido.

El estudio agrega que el departamento de Norte de Santander, fronterizo con Venezuela, es en el que se registró el mayor número de casos (67), seguido de Antioquia (65).

"Resulta preocupante constatar que estas regiones, prácticamente, coinciden con las regiones en donde se han localizado las principales acciones del Plan Colombia", reseña el documento.

El Plan Colombia es un proyecto internacional entre los gobiernos de Colombia y Estados Unidos que, en principio se presentaba como un mecanismo para disminuir el tráfico de drogas y resolver el conflicto armado de la nación suramericana, no obstante, sus métodos y resultados no han sido claros para la nación.

El informe continúa anunciando que el Ejército colombiano es el mayor responsable de las denuncias sobre ejecuciones extrajudiciales, pues se le atribuye el 93,7 por ciento de los casos, que representa 443 víctimas.

A la Policía se le atribuyen el 5,1 por ciento de las muertes y la Armada Nacional sería responsable de seis.

Del total, 58 por ciento era menor de 30 años. El estudio agrega que las nuevas modalidades de ejecuciones ahora involucran a jóvenes de sectores marginados que desaparecen y después les quitan la vida en lugares lejanos a sus hogares.

Ese fue el caso de los 20 jóvenes de la localidad de Soacha, por cuyo caso fu

terça-feira, outubro 28, 2008

A crise do capitalismo e a importância atual de Marx

Eric Hobsbawm é considerado um dos maiores historiadores vivos. É presidente do Birbeck College (London University) e professor emérito da New School for Social Research (Nova Iorque). Entre suas muitas obras, encontra-se a trilogia acerca do “longo século XIX”: “A Era da Revolução: Europa 1789-1848” (1962); “A Era do Capital: 1848-1874” (1975); “A Era do Império: 1875-1914 (1987) e o livro “A Era dos Extremos: o breve século XX, 1914-1991 (1994), todos traduzidos em vários idiomas.

Entrevistamos o historiador por ocasião da publicação do livro “Karl Marx’s Grundrisse. Foundations of the Critique of Political Economy 150 Years Later” (Os Manuscritos de Karl Marx. Elementos fundamentais para a Crítica da Economia Política, 150 anos depois).

Nesta conversa, abordamos o renovado interesse que os escritos de Marx vêm despertando nos últimos anos e mais ainda agora após a nova crise de Wall Street. Nosso colaborador Marcello Musto entrevistou Hobsbawm para Sin Permiso.

Marcello Musto: Professor Hobsbawm, duas décadas depois de 1989, quando foi apressadamente relegado ao esquecimento, Karl Marx regressou ao centro das atenções. Livre do papel de intrumentum regni que lhe foi atribuído na União Soviética e das ataduras do “marxismo-leninismo”, não só tem recebido atenção intelectual pela nova publicação de sua obra, como também tem sido objeto de crescente interesse. Em 2003, a revista francesa Nouvel Observateur dedicou um número especial a Marx, com um título provocador: “O pensador do terceiro milênio?”. Um ano depois, na Alemanha, em uma pesquisa organizada pela companhia de televisão ZDF para estabelecer quem eram os alemães mais importantes de todos os tempos, mais de 500 mil espectadores votaram em Karl Marx, que obteve o terceiro lugar na classificação geral e o primeiro na categoria de “relevância atual”.

Em 2005, o semanário alemão Der Spiegel publicou uma matéria especial que tinha como título “Ein Gespenst Kehrt zurük” (A volta de um espectro), enquanto os ouvintes do programa “In Our Time” da rádio 4, da BBC, votavam em Marx como o maior filósofo de todos os tempos. Em uma conversa com Jacques Attali, recentemente publicada, você disse que, paradoxalmente, “são os capitalistas, mais que outros, que estão redescobrindo Marx” e falou também de seu assombro ao ouvir da boca do homem de negócios e político liberal, George Soros, a seguinte frase: “Ando lendo Marx e há muitas coisas interessantes no que ele diz”. Ainda que seja débil e mesmo vago, quais são as razões para esse renascimento de Marx? É possível que sua obra seja considerada como de interesse só de especialistas e intelectuais, para ser apresentada em cursos universitários como um grande clássico do pensamento moderno que não deveria ser esquecido? Ou poderá surgir no futuro uma nova “demanda de Marx”, do ponto de vista político?

Eric Hobsbawm: Há um indiscutível renascimento do interesse público por Marx no mundo capitalista, com exceção, provavelmente, dos novos membros da União Européia, do leste europeu. Este renascimento foi provavelmente acelerado pelo fato de que o 150° aniversário da publicação do Manifesto Comunista coincidiu com uma crise econômica internacional particularmente dramática em um período de uma ultra-rápida globalização do livre-mercado.

Marx previu a natureza da economia mundial no início do século XXI, com base na análise da “sociedade burguesa”, cento e cinqüenta anos antes. Não é surpreendente que os capitalistas inteligentes, especialmente no setor financeiro globalizado, fiquem impressionados com Marx, já que eles são necessariamente mais conscientes que outros sobre a natureza e as instabilidades da economia capitalista na qual eles operam.

A maioria da esquerda intelectual já não sabe o que fazer com Marx. Ela foi desmoralizada pelo colapso do projeto social-democrata na maioria dos estados do Atlântico Norte, nos anos 1980, e pela conversão massiva dos governos nacionais à ideologia do livre mercado, assim como pelo colapso dos sistemas políticos e econômicos que afirmavam ser inspirados por Marx e Lênin. Os assim chamados “novos movimentos sociais”, como o feminismo, tampouco tiveram uma conexão lógica com o anti-capitalismpo (ainda que, individualmente, muitos de seus membros possam estar alinhados com ele) ou questionaram a crença no progresso sem fim do controle humano sobre a natureza que tanto o capitalismo como o socialismo tradicional compartilharam. Ao mesmo tempo, o “proletariado”, dividido e diminuído, deixou de ser crível como agente histórico da transformação social preconizada por Marx.

Devemos levar em conta também que, desde 1968, os mais proeminentes movimentos radicais preferiram a ação direta não necessariamente baseada em muitas leituras e análises teóricas. Claro, isso não significa que Marx tenha deixado de ser considerado como um grande clássico e pensador, ainda que, por razões políticas, especialmente em países como França e Itália, que já tiveram poderosos Partidos Comunistas, tenha havido uma apaixonada ofensiva intelectual contra Marx e as análises marxistas, que provavelmente atingiu seu ápice nos anos oitenta e noventa. Há sinais agora de que a água retomará seu nível.

Marcello Musto: Ao longo de sua vida, Marx foi um agudo e incansável investigador, que percebeu e analisou melhor do que ninguém em seu tempo o desenvolvimento do capitalismo em escala mundial. Ele entendeu que o nascimento de uma economia internacional globalizada era inerente ao modo capitalista de produção e previu que este processo geraria não somente o crescimento e prosperidade alardeados por políticos e teóricos liberais, mas também violentos conflitos, crises econômicas e injustiça social generalizada. Na última década, vimos a crise financeira do leste asiático, que começou no verão de 1997; a crise econômica Argentina de 1999-2002 e, sobretudo, a crise dos empréstimos hipotecários que começou nos Estados Unidos em 2006 e agora tornou-se a maior crise financeira do pós-guerra. É correto dizer, então, que o retorno do interesse pela obra de Marx está baseado na crise da sociedade capitalista e na capacidade dele ajudar a explicar as profundas contradições do mundo atual?

Eric Hobsbawm: Se a política da esquerda no futuro será inspirada uma vez mais nas análises de Marx, como ocorreu com os velhos movimentos socialistas e comunistas, isso dependerá do que vai acontecer no mundo capitalista. Isso se aplica não somente a Marx, mas à esquerda considerada como um projeto e uma ideologia política coerente. Posto que, como você diz corretamente, a recuperação do interesse por Marx está consideravelmente – eu diria, principalmente – baseado na atual crise da sociedade capitalista, a perspectiva é mais promissora do que foi nos anos noventa. A atual crise financeira mundial, que pode transformar-se em uma grande depressão econômica nos EUA, dramatiza o fracasso da teologia do livre mercado global descontrolado e obriga, inclusive o governo norte-americano, a escolher ações públicas esquecidas desde os anos trinta.

As pressões políticas já estão debilitando o compromisso dos governos neoliberais em torno de uma globalização descontrolada, ilimitada e desregulada. Em alguns casos, como a China, as vastas desigualdades e injustiças causadas por uma transição geral a uma economia de livre mercado, já coloca problemas importantes para a estabilidade social e mesmo dúvidas nos altos escalões de governo. É claro que qualquer “retorno a Marx” será essencialmente um retorno à análise de Marx sobre o capitalismo e seu lugar na evolução histórica da humanidade – incluindo, sobretudo, suas análises sobre a instabilidade central do desenvolvimento capitalista que procede por meio de crises econômicas auto-geradas com dimensões políticas e sociais. Nenhum marxista poderia acreditar que, como argumentaram os ideólogos neoliberais em 1989, o capitalismo liberal havia triunfado para sempre, que a história tinha chegado ao fim ou que qualquer sistema de relações humanas possa ser definitivo para todo o sempre.

Marcello Musto: Você não acha que, se as forças políticas e intelectuais da esquerda internacional, que se questionam sobre o que poderia ser o socialismo do século XXI, renunciarem às idéias de Marx, estarão perdendo um guia fundamental para o exame e a transformação da realidade atual?

Eric Hobsbawm: Nenhum socialista pode renunciar às idéias de Marx, na medida que sua crença em que o capitalismo deve ser sucedido por outra forma de sociedade está baseada, não na esperança ou na vontade, mas sim em uma análise séria do desenvolvimento histórico, particularmente da era capitalista. Sua previsão de que o capitalismo seria substituído por um sistema administrado ou planejado socialmente parece razoável, ainda que certamente ele tenha subestimado os elementos de mercado que sobreviveriam em algum sistema pós-capitalista.

Considerando que Marx, deliberadamente, absteve-se de especular acerca do futuro, não pode ser responsabilizado pelas formas específicas em que as economias “socialistas” foram organizadas sob o chamado “socialismo realmente existente”. Quanto aos objetivos do socialismo, Marx não foi o único pensador que queria uma sociedade sem exploração e alienação, em que os seres humanos pudessem realizar plenamente suas potencialidades, mas foi o que expressou essa idéia com maior força e suas palavras mantêm seu poder de inspiração.

No entanto, Marx não regressará como uma inspiração política para a esquerda até que se compreenda que seus escritos não devem ser tratados como programas políticos, autoritariamente ou de outra maneira, nem como descrições de uma situação real do mundo capitalista de hoje, mas sim como um caminho para entender a natureza do desenvolvimento capitalista. Tampouco podemos ou devemos esquecer que ele não conseguiu realizar uma apresentação bem planejada, coerente e completa de suas idéias, apesar das tentativas de Engels e outros de construir, a partir dos manuscritos de Marx, um volume II e III de “O Capital”. Como mostram os “Grundrisse”, aliás. Inclusive, um Capital completo teria conformado apenas uma parte do próprio plano original de Marx, talvez excessivamente ambicioso.

Por outro lado, Marx não regressará à esquerda até que a tendência atual entre os ativistas radicais de converter o anti-capitalismo em anti-globalização seja abandonada. A globalização existe e, salvo um colapso da sociedade humana, é irreversível. Marx reconheceu isso como um fato e, como um internacionalista, deu as boas vindas, teoricamente. O que ele criticou e o que nós devemos criticar é o tipo de globalização produzida pelo capitalismo.

Marcello Musto: Um dos escritos de Marx que suscitaram o maior interesse entre os novos leitores e comentadores são os “Grundrisse”. Escritos entre 1857 e 1858, os “Grundrisse” são o primeiro rascunho da crítica da economia política de Marx e, portanto, também o trabalho inicial preparatório do Capital, contendo numerosas reflexões sobre temas que Marx não desenvolveu em nenhuma outra parte de sua criação inacabada. Por que, em sua opinião, estes manuscritos da obra de Marx, continuam provocando mais debate que qualquer outro texto, apesar do fato dele tê-los escrito somente para resumir os fundamentos de sua crítica da economia política? Qual é a razão de seu persistente interesse?

Eric Hobsbawm: Desde o meu ponto de vista, os "Grundrisse" provocaram um impacto internacional tão grande na cena marxista intelectual por duas razões relacionadas. Eles permaneceram virtualmente não publicados antes dos anos cinqüenta e, como você diz, contendo uma massa de reflexões sobre assuntos que Marx não desenvolveu em nenhuma outra parte. Não fizeram parte do largamente dogmatizado corpus do marxismo ortodoxo no mundo do socialismo soviético. Mas não podiam simplesmente ser descartados. Puderam, portanto, ser usados por marxistas que queriam criticar ortodoxamente ou ampliar o alcance da análise marxista mediante o apelo a um texto que não podia ser acusado de herético ou anti-marxista. Assim, as edições dos anos setenta e oitenta, antes da queda do Muro de Berlim, seguiram provocando debate, fundamentalmente porque nestes escritos Marx coloca problemas importantes que não foram considerados no “Capital”, como por exemplo as questões assinaladas em meu prefácio ao volume de ensaios que você organizou (Karl Marx's Grundrisse. Foundations of the Critique of Political Economy 150 Years Later, editado por M. Musto, Londres-Nueva York, Routledge, 2008).

Marcello Musto: No prefácio deste livro, escrito por vários especialistas internacionais para comemorar o 150° aniversário de sua composição, você escreveu: “Talvez este seja o momento correto para retornar ao estudo dos “Grundrisse”, menos constrangidos pelas considerações temporais das políticas de esquerda entre a denúncia de Stalin, feita por Nikita Khruschev, e a queda de Mikhail Gorbachev”. Além disso, para destacar o enorme valor deste texto, você diz que os “Grundrisse” “trazem análise e compreensão, por exemplo, da tecnologia, o que leva o tratamento de Marx do capitalismo para além do século XIX, para a era de uma sociedade onde a produção não requer já mão-de-obra massiva, para a era da automatização, do potencial de tempo livre e das transformações do fenômeno da alienação sob tais circunstâncias. Este é o único texto que vai, de alguma maneira, mais além dos próprios indícios do futuro comunista apontados por Marx na “Ideologia Alemã”. Em poucas palavras, esse texto tem sido descrito corretamente como o pensamento de Marx em toda sua riqueza. Assim, qual poderia ser o resultado da releitura dos “Grundrisse” hoje?

Eric Hobsbawm: Não há, provavelmente, mais do que um punhado de editores e tradutores que tenham tido um pleno conhecimento desta grande e notoriamente difícil massa de textos. Mas uma releitura ou leitura deles hoje pode ajudar-nos a repensar Marx: a distinguir o geral na análise do capitalismo de Marx daquilo que foi específico da situação da sociedade burguesa na metade do século XIX. Não podemos prever que conclusões podem surgir desta análise. Provavelmente, somente podemos dizer que certamente não levarão a acordos unânimes.

Marcello Musto: Para terminar, uma pergunta final. Por que é importante ler Marx hoje?

Eric Hobsbawm: Para qualquer interessado nas idéias, seja um estudante universitário ou não, é patentemente claro que Marx é e permanecerá sendo uma das grandes mentes filosóficas, um dos grandes analistas econômicos do século XIX e, em sua máxima expressão, um mestre de uma prosa apaixonada. Também é importante ler Marx porque o mundo no qual vivemos hoje não pode ser entendido sem levar em conta a influência que os escritos deste homem tiveram sobre o século XX. E, finalmente, deveria ser lido porque, como ele mesmo escreveu, o mundo não pode ser transformado de maneira efetiva se não for entendido. Marx permanece sendo um soberbo pensador para a compreensão do mundo e dos problemas que devemos enfrentar.

fonte Da Agência Carta Maior

segunda-feira, outubro 27, 2008

Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK),

por Juliana Kroeger e Fernando Evangelista (2007)
Fotos: Matt Corner

Um nome proibido. Durante o ano todo, seu nome é sussurrado nas reuniões clandestinas e nas esquinas escuras. Ninguém pode carregar sua foto, mesmo que seja uma 3 x 4 escondida lá no fundo da carteira. É uma imagem proibida, como é proibido carregar a bandeira com as cores verde, amarela e vermelha. Essas cores juntas simbolizam o partido que ele lidera e o partido está proibido. Se alguém, por azar do destino, for apanhado pela polícia ou pelo exército desrespeitando essas normas, será preso.

Mas existe um dia, apenas um dia no ano, em que a imagem e o nome de Abdullah Ocalan são celebrados em alta voz. É 21 de março, quando os curdos – a maior etnia sem Estado no mundo, estimada em 25 milhões de pessoas – comemoram o Newroz, o Ano Novo. Os curdos vivem em uma região riquíssima em petróleo, localizada entre as fronteiras da Turquia, Iraque, Irã e Síria. Abdullah Ocalan, o Apo, o nome proibido, a imagem proibida, é o líder do povo curdo na Turquia.

Ocalan é o “comandante” do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), fundado na década de 70 e que logo se tornaria a mais conhecida representação política e militar do Curdistão. Em 1984, o partido inicia um movimento separatista e entra em guerra contra o governo de Ancara. Conforme relatório da Human Rights Watch, durante as duas décadas de conflito o exército turco não fez distinção entre civis e militantes armados, destruindo 3.000 vilarejos e deixando cerca de 100.000 famílias sem casa. Desde então, o confl ito já matou mais de 37.000 pessoas.

Em 1999, Ocalan foi condenado à morte pela Justiça, acusado de “traição e separatismo”. Porém, antes que fosse executado, a Turquia aboliu a pena capital, como parte de uma série de reformas para se aproximar das normas da União Européia. Ocalan cumpre prisão perpétua na penitenciária da ilha de Imrali, próxima a Istambul. A condenação rendeu críticas da comunidade internacional, a ponto de o Tribunal Europeu de Direitos Humanos, com sede na França, afirmar que o julgamento teria sido injusto por “falta de independência e de imparcialidade”, indicando a necessidade de revisão do processo, coisa que nunca aconteceu. Detalhe: Ocalan é o único detento na ilha de Imrali.

O motivo da luta dos curdos parece simples. Na Turquia, com algumas concessões aqui e ali, sua língua é proibida nos espaços públicos estatais, como escolas, hospitais e prisões. As músicas são censuradas. Parte de sua representação política vive na ilegalidade. Detenções arbitrárias, desaparecimentos e execuções são bastante comuns, tão comuns que já não despertam a atenção do resto do mundo. Segundo a organização Humans Rights Association, uma das mais importantes da Turquia, apenas no ano passado 708 pessoas foram torturadas e 67 desapareceram. Nesse mesmo período, 344 morreram em combate, entre militares e rebeldes.

Fogueira
A cidade de Diyarbakir, no sudeste da Turquia, é a mais importante do Curdistão. É aqui, a 200 quilômetros da fronteira com o Iraque, às margens do rio Tigre, que se reúne o maior número de curdos para comemorar o Ano Novo, no equinócio da primavera. É dia de festa, mas o conflito cotidiano está na paisagem: milhares de militares turcos estão perfilados às margens da estrada que leva ao evento. Tanques, tropas de choque, tropas de elite. Fuzis, metralhadoras, bombas de gás. Oficialmente, a guerra terminou. O PKK, seguindo orientação de Ocalan, depôs as armas no final do ano passado, pela quinta vez. O primeiro ministro turco Recep Tayyip Erdogan afi rmou às agências internacionais que não se pode fazer trégua com organizações terroristas, “cessar-fogo acontece entre países”. Tempos atrás, o governo dissera que a guerra só terminaria quando os membros do PKK tivessem sido todos rendidos ou eliminados. Acredita-se que o grupo, considerado terrorista pelos Estados Unidos, União Européia e Nações Unidas, tenha mais de 5.000 integrantes, vivendo principalmente no norte do Iraque.

Antes de entrar no centro de eventos, grande parque a céu aberto, os participantes do Newroz são revistados pelos militares. As pessoas que estão na fila, todas elas, nasceram na Turquia e, ao mesmo tempo, pertencem à etnia curda. Muitas ainda sonham com a grande pátria do Curdistão, mas outras, talvez a maioria, depois de tanta guerra e de tantas derrotas consecutivas, querem apenas que sua identidade e seus direitos sejam reconhecidos. Querem continuar vivendo neste país sem, entretanto, abrir mão de sua cultura.

A festa de Ano Novo começa às 10 da manhã. Os músicos se apresentam num palco de quase 50 metros de boca e tudo lembra um mega-show de rock. A diferença é que a motivação é política e não há bebida alcoólica: mais de 90 por cento dos curdos são mulçumanos, a maioria sunita. As mulheres usam túnicas brancas cobertas por tecidos e véus de diversas cores, alguns bordados, outros com lantejoulas. De braços dados, fazem uma espécie de cordão de isolamento entre o palco e o público. Na frente delas, apenas as crianças – uma infinidade – com o mesmo figurino. Os homens usam calças largas até os joelhos e apertadas nas canelas, as salvars. Todos dançam. Duas grandes fogueiras completam o cenário. As músicas são cantadas com força, como se essa gente quisesse compensar um ano inteiro de silêncio.

Apesar da ostensiva revista militar, muitos conseguem entrar com os símbolos proibidos – bandeiras, lenços e faixas de todos as dimensões. As cores verde, amarela e vermelha vão aparecendo aqui e ali. No telhado de uma fábrica próxima, dezenas de jovens estendem uma faixa com fotos de presos e desaparecidos. Alguém, rosto coberto por um kaffieh, tradicional lenço palestino, ergue no meio do povo um retrato de Ocalan. Outra pessoa, do outro lado, faz a mesma coisa e mais um outro e de repente a imagem está por todos os lados. O público amarra fotografias do líder curdo em balões de gás e a imagem ganha o céu. Um avião militar sobrevoa o local.



Abdurrahman e Reseat: contam a história do seu povo na Turquia
Milhões de pessoas – em várias cidades do Curdistão – participam do Newroz. Só em Diyarbakir são 500.000. No meio da multidão estão os primos Abdurrahman e Resat, ambos de 11 anos. Eles, anfitriões de improviso, fazem – em inglês – um resumo da história da Turquia. Dizem que no país, ponte entre a Europa e a Ásia, vivem 70 milhões de pessoas, sendo que 12 milhões são curdos. Falam da Primeira Guerra Mundial e da dissolução do Império Otomano, falam de Mustafá Kemal, o Ataturk, primeiro presidente da Turquia. Ataturk, “o pai dos turcos”, é uma imagem onipresente no país, a começar por todas as cédulas de dinheiro. É nome de praça, aeroporto, avenidas, ruas, pontes, escolas e hospitais.

Foi ele quem começou a aproximação com o Ocidente, introduzindo o alfabeto latino, a igualdade de gênero e substituindo as cortes islâmicas por tribunais civis.

Para os turcos, Ataturk é o grande herói nacional. Mas, para os curdos, de uma maneira geral, ele é um líder militar e político que quis criar um Estado homogêneo, principal álibi para a repressão contra todas as minorias. Abdurrahman e Resat falam da fogueira, o grande símbolo do Newroz. “Peguem as canetas e os bloquinhos porque essa sim é uma história importante”, diz Resat, um dos meninos. Conselho aceito, o “guia” continua: “A fogueira retoma uma história de 2.600 anos. Nesta terra vivia um operário curdo que, para defender o seu filho, derrotou um tirano. Quando ele venceu a luta, fez uma imensa fogueira para avisar ao resto do povo que os dias de escuridão e medo tinham terminado”.

As preparações para a festa deste ano ganharam uma dose extra de tensão. No início de março, advogados de Ocalan, em entrevista coletiva na Itália, apresentaram evidências de que ele estaria sendo envenenado na prisão. A denúncia, feita com base na análise de fios de cabelo, mostra que o nível de estrôncio e cromo no organismo estaria muito acima do normal, indicando uma “intoxicação crônica”. Mahmut Sakar, um dos advogados, afirma que ele corre risco de morte e que vive sob tortura. “Nada disso é verdade”, rebate o governo turco, “o prisioneiro está bem e faz check-ups regulares.”

A festa acaba às 4 da tarde. Bandeiras e imagens de Ocalan são cuidadosamente escondidas. E acontece o previsto: provocações entre curdos e militares. Pedras de um lado, balas de borracha de outro. Trinta e duas pessoas são presas. Depois, tudo volta ao normal. Rotina. Tanques do exército cruzam as esquinas. Um soldado, metralhadora em punho, dedo no gatilho, observa o movimento.

Guerra ao terror
A intenção da Turquia em ingressar na União Européia parecia ser um trunfo nas mãos do povo curdo. Desde 1999, quando o Conselho Europeu de Helsinque afirmou que o país poderia se candidatar à adesão, teve início uma série de reformas. Mas as repetidas recusas à integração mexeram com o orgulho do país e fizeram com que o sentimento nacionalista turco, sempre tão presente, aumentasse ainda mais nos últimos tempos. Além disso, qualquer tentativa de avanço em direção à efetividade dos direitos humanos esbarra no artigo 301 do Código Penal, que considera crime qualquer “insulto à identidade turca”. Poucas pessoas acreditam que as eleições deste ano, para presidente e primeiro-ministro, sejam capazes de mudar esse cenário.

O presidente da Human Rights Association, Bengi Yildiz, 42 anos, explica que o artigo 301, utilizado como subterfúgio para todo tipo de arbitrariedade, pune qualquer pessoa que critique as instituições do Estado, incluindo as forças de segurança. “O problema de fundo”, revela Bengi, “é que os verdadeiros donos do poder, aqui, são os militares.” Para Heinz Kramer, professor de relações internacionais, citado em reportagem publicada no jornal Le Monde Diplomatique, “o comando militar constitui um centro de decisão autônomo que escapa amplamente ao controle civil”.

O vencedor do Nobel de Literatura do ano passado, o turco Orhan Pamuk, foi processado com base no artigo 301. Em entrevista a um jornal suíço, ele disse que 1 milhão de armênios teriam sido mortos, além de 30.000 curdos, em terras turcas.


Bengi Yildiz: problema são os militares turcos

Por escrever artigos sobre esses mesmos fatos, o jornalista turco, de origem armênia, Hrant Dink, de 52 anos, foi assassinado a tiros em Istambul em janeiro deste ano. O principal suspeito do crime é um garoto de 17 anos, ligado a uma organização ultranacionalista. Ao ser questionado sobre o motivo do crime, afirmou: “Hrant insultou a identidade turca”.

“O artigo“ continua o presidente da Human Rights Association, “nos deixa sempre com as mãos atadas.” E com as mãos atadas ficam também os partidos pró-curdos. O Partido Social-Democrata, o DTP, já teve quatrocentos integrantes presos, acusados, quase sempre, de violar o artigo 301. Na sede do partido em Batman, cidade ao lado de Diyarbakir, há na parede doze fotos de membros do partido. Todos foram assassinados ou estão desaparecidos. O presidente e o vice estão presos. O motivo? A polícia descobriu um retrato de Ocalan exposto na sede. O retrato, pequeno, havia sido recortado de um jornal. Tempos atrás, Cihan Sincar, o prefeito de Kiziltepe, perto da fronteira com a Síria, foi condenado a seis meses de prisão por ter falado em curdo durante um comício na campanha eleitoral de 2004.

Apesar desses fatos recorrentes, Bengi Yildiz reconhece que algumas coisas têm mudado. “Se um curdo fosse preso há quatro, cinco anos, a família não podia nem questionar o seu desaparecimento. Não era possível visitá-lo e muito dificilmente contratar advogados. Hoje é diferente.” E isso é fruto da pressão da União Européia? Ele sorri: “A União Européia tem a atenção voltada para as questões econômicas, os desrespeitos aos direitos humanos são vistos apenas como um incômodo detalhe”.

Diante desse cenário, solo fértil para o fanatismo, surge em 2004 o grupo terrorista Falcões da Liberdade do Curdistão (TAK). A organização pró-curda tem realizado atentados por toda a Turquia, centrando suas ações em locais turísticos. Esse tipo de violência serve de pretexto para o aumento da repressão, fortalecendo ainda mais o Estado militar. Acredita-se que os Falcões sejam dissidentes do PKK, porque o grupo aparece no mesmo ano em que o partido de Ocalan anuncia o primeiro cessar-fogo.

O que pode ser, de fato, um trunfo nas mãos dos curdos da Turquia é a guerra no Iraque. A ocupação americana fortaleceu ainda mais o poder que os curdos iraquianos detinham desde 1991, quando passaram a controlar uma região autônoma no norte do país. Ano passado, diante da guerra civil entre xiitas e sunitas, eles formaram o Governo Regional do Curdistão (KRG), com participação de todas as três províncias. Essa região, hoje, é a mais segura do Iraque, conforme relato do jornalista Zuhair Al Jezairy, diretor da agência de notícia Aswat al Iraq: “A cidade de Sulymania (norte) e Bagdá parecem fazer parte de países e épocas diferentes”. O norte não vive o caos. Os curdos iraquianos nunca estiveram tão fortes. Evidentemente, tal situação não é vista com bons olhos por Ancara.

Por isso, parece óbvio que a afirmação do comandante das Forças Armadas da Turquia, Yasar Buyukanit, no dia 12 de abril, menos de um mês depois do Newroz, não tenha sido dita ao acaso. Foi um aviso, claro e direto: “Nós precisamos realizar uma operação militar no norte do Iraque”. Buyukanit referia-se aos rebeldes curdos do PKK que atuam no país vizinho e que, segundo as autoridades turcas, apesar do anunciado cessar-fogo, ainda usam a região como um campo de treinamento, onde organizam atentados e ações separatistas.

Uma operação militar da Turquia no norte do Iraque pode ser a gota de água que falta para espalhar a guerra por toda a região. A resposta das autoridades iraquianas, já no dia seguinte, deu o tom da gravidade da situação: “Não permitiremos que ninguém interfira em nossos assuntos”, avisou o presidente do Parlamento iraquiano, Mahmoud al-Mashadan, “e cortaremos a mão de quem se intrometer, se não for hoje, será amanhã”.

A Turquia também está com os olhos voltados para a cidade iraquiana de Kirkuk, a 250 quilômetros de Bagdá. Em novembro será realizado um referendo para decidir se a cidade, a quarta maior do país, deve ou não fazer parte da região autônoma do Curdistão. Kirkuk, com uma população formada principalmente por árabes, turcomanos e curdos, é o grande pólo petroleiro da região, com reservas estimadas em 16 bilhões de barris. Além disso, ela é a “ponte” que liga os oleodutos do Iraque com o porto de Ceyhan, na Turquia. O presidente do Governo Regional do Curdistão, Massoud Barzani, em meio à polêmica provocada pela declaração do chefe das forças armadas, asseverou: “Se os turcos interferirem em nossos negócios em Kirkuk, seremos obrigados a interferir nos negócios deles em Diyarbakir”.

A ligação dos curdos iraquianos com Washington não impede a parceria de Ancara com os Estados Unidos. Em 1997, por exemplo, segundo Noam Chomsky no livro O Império Americano – Hegemonia ou Sobrevivência, o envio de armas dos EUA à Turquia superou o total de armamento enviado durante toda a Guerra Fria. Todo esse equipamento, diz o autor, teria sido usado na repressão contra o povo curdo. Com a escalada das atrocidades, a Turquia tornou-se, naquele período, o maior receptor de armas dos EUA, à frente de Israel e Egito.

Há muitos anos, os curdos da Turquia são vítimas do que hoje se costuma chamar de “Guerra ao Terror”. E a guerra ao terror, nesse caso, se dá em nome da unidade nacional. Ela exige obediência. Qualquer um que não seguir as regras será acusado de traição ou de terrorismo. Apesar disso, entre julho de 2005 e maio de 2006, uma campanha recolheu assinaturas para afirmar à comunidade internacional que – mesmo que o governo não permita e meio mundo o considere um criminoso – Ocalan continua sendo o líder do povo curdo. O documento, simples, dizia: “Eu, fulano de tal, reconheço Abdullah Ocalan como representante político no Curdistão”. Foram mais de 3 milhões de assinaturas. Nome e sobrenome registrados, a despeito das conseqüências. Um ato de coragem, como daquele operário que enfrentou o tirano há 2.600 anos.

fonte (Da revista caros amigos)

sábado, outubro 18, 2008



el ultimo amanecer-kjarkas bolivia (ojala que no sea el ultimo !!)

A través de un moll oyn
entre nubes de radiación
el sol saldrá como ayer
en el último amanecer.

Cuando todo sea olvido
y de plástico el corazón.

Cuando todo sea olvido
y de plástico el corazón.

El hombre con su ambición
sembrara su destrucción.

El hombre con su ambición
sembrara su destrucción.

Lluvia acida, esterilidad
donde fue verde y fecundidad.

En lo profundo del mar
cuando muere el ultimo ser
entre polvo y solución
ver las aves perecer.

Cuando lo hermoso del bosque
se convierta en carbón.

Cuando lo hermoso del bosque
se convierta en carbón.

Y la semilla no encuentre
lo que fue la creación.

Y la semilla no encuentre
lo que fue la creación.

Lluvia acida esterilidad
donde fue verde y fecundidad.

Será el fin, será el fin.

sexta-feira, outubro 17, 2008

No hay peor ciego

Hay en el mundo un intenso debate sobre la crisis global, crisis que no amaina, sino que avanza incontenible. Los estadistas se reúnen por eso de prisa y sin pausa. La Unión Europea acaba de concluir una cita en la cual han acordado emplear casi dos billones de euros para evitar nuevas quiebras financieras.

Banqueros de Asia y gobernantes europeos expresan sin tapujos que los males de la economía mundial provienen del desenfreno de los grandes de las finanzas, en particular de Estados Unidos. Ha pasado, expresan, la época del laissez-faire (dejad hacer). Es hora de que el Estado no sólo ponga dinero, sino que regule también.

Nicolas Sarkozy, presidente de Francia, ha abreviado una negociación en Canadá para conversar con George W. Bush sobre la catástrofe. Como se sabe, el mandatario francés ha planteado que el tiempo del mercado libre ha periclitado, no sirve ya a la economía mundial.

Asia, encabezada por China, se incorpora al estado de alarma. Los días 24 y 25 de este mes se reunirán en Beijing en la cumbre de la ASEM (Reunión Asia-Europa) para examinar la crisis y buscar salidas. En la cita estarán los jefes de Estados de los 27 países de la Unión Europea y 18 primeros mandatarios asiáticos. No estarán presentes asesores ni secretarios (se busca secreto).

El momento es, pues, sumamente grave. No es que el capitalismo se venga abajo de inmediato. Lo que se viene es recesión en cadena, desempleo, pobreza mayor, intervención estatal en la economía. Y, desde luego, radicalización política. Se fortalecerán las izquierdas y sus demandas de reformas profundas; pero (¡cuidado!) la derecha extrema puede lanzarse a la demagogia, el racismo, el ataque a los inmigrantes, el recorte de las conquistas sociales, las guerras y la represión brutal.

Francis Fukuyama, el hombre que supuso que había llegado el fin de la historia y la victoria definitiva del capitalismo, publica esta semana en Newsweek un extenso ensayo de título elocuente: The fall of America, Inc, (La caída de Estados Unidos Corporatión).

El texto lleva este epígrafe: “Junto con las más historiadas firmas de Wall Street, ha colapsado cierta visión del capitalismo”.

Señala Fukuyama que la “revolución” conservadora de Ronald Reagan se extravió porque muchos de sus seguidores la convirtieron en una ideología irrecusable. “Dos conceptos”, dice, “eran sacrosantos: que los recortes de impuestos se autofinanciarían y que los mercados financieros se autorregularían”.

Bush, igual que sus acólitos criollos, persistió en ese delirio reaccionario. Los resultados están a la vista: quiebra contagiosa, pánico general.

Pero nuestros mandones no se inquietan. Al borde del abismo, no hay peor ciego que el que no quiere ver.

fuente(editorial cesar levano)

quarta-feira, outubro 15, 2008

O rentável negócio da droga nos EUA

Não obstante, como toda grande indústria num mundo de capitalismo e livre mercado, também esta é altamente concentradora e monopolizada

Ópio, cocaína, maconha e anfetaminas mobilizam mundialmente, cada ano, um orçamento que pode dobrar o de um país petroleiro como Venezuela. Devidamente lavados e levados a honoráveis bolsas de comércio, os lucros anuais do narcotráfico chegam a representar, em ações perfeitamente legais, mais de 3 trilhões de dólares: uma cifra que torna ridícula a pretendida idéia de que é este um negócio manejado por capos terceiro-mundistas que se escondem em algum bunker da Colômbia ou do Afeganistão.

Um camponês boliviano – ponhamos Julio Quispe, para inventar um nome – que evada o monopólio estatal da coca, receberá 1.375 dólares pelos 275 quilos de folhas necessárias para produzir um quilo de pasta ou base de cocaína. Um narcocolombiano – digamos, Álvaro Jaramillo – poderá processar esse quilo de pasta e vendê-la a qualquer congênere por uns 5 mil dólares, ou transformá-la em cloridrato e revendê-la em Cartagena ou Bogotá por 15 mil dólares. No Harlem, ou na Broadway, ou em Harvard, um Tom Smith ou Jimmy Johnson qualquer poderá optar entre oferecer o pó puro, a uns 30 mil dólares o quilo, ou adulterá-lo até obter, por cada grama de pedra ou craque, entre 40 e 80 dólares. Os 1.375 dólares de Julio Quispe são, agora, em média, 60 mil.

Um negócio simples, dir-se-á: não requer mais do que umas folhas que crescem quase silvestres, algo de querosene, um pouco de ácido sulfúrico e acetona, um narcomula ou uma propina ou um disfarce talvez. E, claro, um tanto de má consciência e outro de ousadia para deslocar de um lugar a outro esses mil gramas.

Mas não é um quilo: são 992 mil, pois essa foi, segundo o Escritório das Nações Unidas para as Drogas e o Crime (UNODC, na sua sigla em inglês), a produção mundial de cocaína em um ano tão qualquer como 2007. E não é só coca: também há, igualmente lucrativos ou mais, 8,87 milhões de quilos de ópio. E 41,4 milhões de quilos de maconha. E 494 mil de anfetaminas várias. E pare você de contar alucinógenos e outras espécies.

Falamos, então, de mobilizar por todo o mundo, desde as selvas mais apartadas até os colégios e universidades e bares e escritórios de qualquer cidadezinha primeiro-mundista, algo mais de 50 milhões de quilos de substâncias ilícitas, que são objeto de perseguição feroz e de guerra à morte. Falamos, ademais, de mover também pelo mundo inteiro outra coisa ainda muito mais difícil de fazer passar inadvertida: os 500 bilhões de dólares que, como mínimo, no dizer dos especialistas (da ONU, do Fundo Monetário Internacional, da Drug Enforcement Administration ou DEA), essas substâncias dão de lucro anual. Em preços de 2006.

Isso é o narcotráfico. E é apenas o começo.

Coisas que podes saber só de olhá-las

No começo da longa cadeia do narcotráfico, nem tudo são elos perdidos: conhece-se perfeitamente os grandes centros de produção. E as grandes rotas de distribuição também.

Com 193 mil hectares semeados de dormideira, o Afeganistão concentra 92% da produção mundial de ópio. Pura, ou transformada em morfina ou heroína, a droga afegã flui para a Europa através do Paquistão, das ex-repúblicas soviéticas do Turcomenistão e do Uzbequistão, do longo corredor curdo, da Geórgia, da Chechênia, dos Balcãs. De longe, Miamar compete com seus 27 mil hectares de papoula.

A Colômbia é dona de 55% do cultivo mundial de folhas de coca: 99 mil hectares. Seguem-lhe Peru, com cerca da metade disso, e Bolívia, com 28.900 hectares quase inteiramente dedicados ao processamento e comércio legal. O cloridrato de cocaína tem por destino principal os Estados Unidos. Sobe pelo Pacífico, via Panamá, ou pelo Caribe colombiano, ou atravessa a Venezuela para fazer escala nas Antilhas. Outra parte, menor, cruza o Atlântico e toca a África antes de entrar na Europa.

A Ásia oriental e tecnologizada representa 55% do mercado mundial de anfetaminas (êxtases e outros estimulantes), e se encarrega por si mesma de produzir e consumir seus tabletes. O mesmo o fazem seus outros dois grandes competidores: a culta Europa e os Estados Unidos da implacável DEA.

Desses mesmos super vigiados prédios da DEA no território estadunidense, sabe-se com certeza que os Estados Unidos ficam com a maior porção do bolo no mercado mundial de produção e consumo de maconha, graças às técnicas de cultivo hidropônico em interiores e inclusive em subsolos. Ainda que mais democrático em sua irrigação pelo globo, a cannabis se semeia em 172 países, a América concentra 55% da produção e tem em seu lado Norte uma das mais altas taxas de prevalência mundial: 10,5% dos norte-americanos entre 15 e 64 anos são consumidores. Na Europa, com três milhões de viciados (consumo diário), essa erva encabeça as estatísticas do Observatório Europeu das Drogas e Toxicomanias.

Com apenas esses poucos dados, algumas coisas começam já a chamar a atenção no obscuro mundo do narcotráfico. Coisas, digamos, que não parecem ser casuais.

Por exemplo, que Afeganistão, o quase monopólico centro mundial de produção de opiáceos, esteja literalmente cruzado de tropas invasoras, mísseis, tanques e mortos, e, no entanto...

Que do Paquistão e até das ex-repúblicas soviéticas do sul, amistosamente ocidentais, não se fale. Que Geórgia e Chechênia, o corredor curdo (Irã, Iraque, Turquia), e a porta de fundos da Europa (Albânia, os Balcâs) sejam tão cruamente cenário de guerras, de intervenções, de vigilância extrema pela mal chamada comunidade internacional, e, no entanto...

Que Miamar esteja na lista dos Estados falidos, e, no entanto...

Que a Colômbia acumule nove anos de Plano Colômbia, de balas, de deslocados e de mortes outra vez, e, no entanto...

Que o Caribe seja tão decididamente mare nostrum dos gringos, tão sulcado de patrulhas, e de satélites, e, no entanto...

Ou, por exemplo, que a maconha, por longo tempo a rubrica de maior peso no narcotráfico mundial (80%), em termos de tonelagem, a que mais alarmes de consumo acende nos países altamente desenvolvidos, e a que ali mesmo se produz, assim como as anfetaminas, seja justamente a droga menos perseguida.

Mas, claro: ninguém se imagina um Plano Holanda, um bombardeio incendiário de laboratórios semeados em Borgonha, uma invasão aliada contra Londres, umas autodefesas que desloquem e aniquilem as populações do Harlem ou do Queens. Ainda que sejam negros, ainda que sejam boricuas [porto-riquenho cuja família reside em Porto Rico há várias gerações]. Ali, o narcotráfico serve para outra coisa.

Peões, capatazes, laranjas

Um simples cálculo matemático estabelece que se as 50 mil toneladas de produção mundial de drogas se transportassem em contêineres de uso corrente, se necessitariam 1.250 gôndolas para carregá-los. Outros, mais ociosamente, calcularam que os lucros respectivos, empilhados em cédulas de cem dólares uma sobre a outra, formariam uma torre de mil metros de altura: quatro torres do Parque Central de Caracas, uma em cima da outra.

Não é fácil esconder um frete assim. Segundo diversos informes internacionais, os orçamentos do combate mundial contra o narcotráfico equivalem quase ao mesmo valor gerado pelo comércio de drogas (colombiadrogas.wordpress.com). Só o Plano Colômbia, no momento de sua aprovação por Bill Clinton, contemplou para esse fim um montante de 1,3 trilhões de dólares. Um total de 87 escritórios da DEA se repartem em 63 países, além dos 227 existentes em território estadunidense, para recordar ao mundo que essa luta é exigência da maior das potências econômicas, militares e policiais.
E, no entanto: durante todo 2007, esse mesmo DEA teve que jactar-se como logro maior uma apreensão de 19.434 quilos de cocaína num barco de bandeira panamenha: 1,9% da produção mundial.

Os supostos grandes capos da droga que terminam presos ou mortos guardam proporção com essas últimas cifras. Carlos Lehder, co-fundador do Cartel de Medellín, era, ao ser capturado dono de dois hotéis, dois aviões, sete fazendas em Quindío e outros departamentos, lanchas e ao menos 1,8 milhões de dólares aplicados (www.pabloescobargaviria.info/index). Ao ultra-famoso e finado Pablo Escobar Gaviria, se lhe atribuiu uma fortuna (nunca auditada, jamais comprovada) de entre 5 e 10 bilhões de dólares: 1% ou 2% do que produz “o negócio” em 12 meses apenas.

Esses grandes czares nunca foram mais que pequenos intermediários. Hoje, quando já não estão, quando já não é possível ser a um mesmo tempo capataz de fazenda produtora e presidente de um banco ou uma universidade, seus sucessores são milhares e milhares de peões que só se alçam um escalão ou dois por sobre essa raia miúda do narcotráfico do tal Jaramillo ou Tom Smith ou Jimmy Johnson.

Disse uma vez o ex-presidente venezuelano Carlos Andrés Pérez, conhecedor de ofício: “Há duas coisas impossíveis de ocultar: a tosse e a riqueza”.

A grande lavadora

Como se faz para esconder quatro torres do Parque Central feitas de cédulas de cem dólares? Como se apaga um orçamento que é quase o dobro do de um país que flutua em petróleo como a Venezuela? Como podem passar despercebidos 500 bilhões de dólares por ano?

Porque, obviamente, a finalidade do narcotráfico não consiste em enterrar pacotes sob o piso.

Antes de chegar ao extremo superior da cadeia, o negócio das drogas tem, como é sabido, um elo fundamental na lavagem de dinheiro. De cumprir essa função nos níveis dos laranjas e intermediários, se encarregam sistemas artesanais: desde o individuo que abre 10 ou 20 contas em outros tantos bancos até esses centros de diversões que repentinamente, sem motivo aparente, se põem na moda e se enchem de luxuosos edifícios e centros comerciais que logo ficam abandonados ou nunca se concluem.

Não obstante, como toda grande indústria num mundo de extremo capitalismo e livre mercado, também esta é altamente concentradora e monopolizada. Quem tenha, pois, um modesto 10% desse bolo, deverá lavar, cada ano, 50 bilhões de dólares. Vale dizer, a mesma cifra que, desde o ano 2000, A ONU vem pedindo reunir, inutilmente, para poder cumprir seu grande Objetivo do Milênio: a redução da pobreza.

Para dissolver problemas desse tipo, o branqueamento de dinheiro sujo de qualquer espécie, o sistema financeiro internacional permite e apadrinha um não-sistema: um espaço de extraterritorialidade alheio a todas as leis nacionais, superintendências bancárias, regulações, convênios internacionais: alheio a tudo quanto não seja o dinheiro e sua intrínseca tendência ao lucro e à acumulação.

Esse espaço é o dos assim chamados paraísos fiscais e os bancos offshore, cujas interioridades foram exaustivamente reveladas pelo jornalista e escritor argentino Julio Sevares, em estudo intitulado “O dinheiro sujo, sangue do sistema econômico e o poder”.

No ano de 2004, existiam no mundo 72 desses paraísos, nos quais funcionavam um milhão de sociedades amparadas pelo anonimato: empresas virtuais ou reais que nada nem ninguém obriga a apresentar balancetes, estabelecer sua composição acionária ou, inclusive, ter capital algum. Não obstante, a elas se somavam mais de 4 mil bancos offshore com depósitos conjuntos que superavam os cinco bilhões de dólares.

Paraísos fiscais célebres são os das Bahamas e das Ilhas Caymann, no Caribe, mas os há por todo o mundo: funcionam profusamente no centro de Londres, em Mônaco, em Tóquio, no diminuto estado de Delaware, a poucos minutos de Nova York e de Wall Street. E os há inclusive em lugares tão curiosos como o Principado de Sealand, que funciona em uma antiga plataforma petroleira do Mar do Norte, ou o Domínio de Melchizedek, situado sobre um desértico atol vizinho às Ilhas Marshal, qu, através da página web www.Melchizedek.com, oferece cidadania, passaporte e facilidades para toda classe de negócios. Sem um único edifício à vista, tem, em seus bancos, 25 bilhões de dólares.

No livro “Capitalismo criminal: ensaios críticos” (Bogotá: Universidade Nacional da Colômbia, 2008), Tom Blickman precisa a magnitude e o modus operandi dessas eficientes lavadoras: A Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômicos (OCDE), que agrupa os 30 países mais ricos do mundo, estima que o volume do comércio mundial que passa pelos paraísos fiscais de maneira documentada cresceu, desde começos dos anos 1970 até 2004, cerca de 50%, pese a que esses lugares representam apenas 3% do produto bruto mundial. Essa extraordinária discrepância é uma indicação do grau em que a maioria das principais corporações aproveitam a mobilidade transnacional de seus capitais para lavar seus lucros através de paraísos fiscais e regimes de impostos baixos.

E acrescenta em seguida: Ditas corporações utilizam uma variedade de mecanismos, como a re-fatura e os preços de transferência bens comercializados entre companhias com um dono comum a preços arbitrários, independentes do mercado, e que permitem baixar impostos declarando custos altos e preços de venta baixos nos lugares de maior tributação dos lucros, ou como as transações realizadas para companhias de papel e para fundos fiduciários secretos extraterritoriais. Meios tais como as contas fiduciárias móveis, que se trasladam automaticamente a outra jurisdição quanto se realizam averiguações ou solicitações de assistência mútua judicial, facilitam claramente o delito.

Como a imensa maioria das empresas assentadas em tais territórios, boa parte dos bancos offshore não mostrarão nunca ao cliente nem escritórios nem empregados: são, na realidade, instituições virtuais, conhecidas na gíria como co-responsáveis, que, para funcionar, só requerem de uma conta aberta em uma instituição bancária fisicamente estabelecida nesse ou outro paraíso. Se ainda maior segurança no apagamento de toda pista que vincule depositário e depósito é requerida e necessária, recorre-se ao nesting ou ennidado: uma conta em um banco que, por sua vez, tenha conta em outro banco que tenha conta em um offshore.

Quem tenha dúvidas imerecidas, há que se dizer sobre a seriedade desse sistema bancário virtual. Pode, assim, perfeitamente depositar sua confiança no respaldo que lhe proporcionam principalíssimos bancos da Suíça, da Inglaterra, da Alemanha, do Japão, dos Estados Unidos e muitos mais.

Julio Sevares recolhe informação da revista The Economist, em sua edição de 14 de abril de 2001, que permite em tal sentido dissipar as apreensões do mais desconfiado dos narcotraficantes: Três quartos dos grandes bancos investigados pelo Senado estadunidense têm, cada um, mais de mil contas de bancos co-responsáveis. Os dois maiores bancos da lista, que não são estadunidenses, têm 12 mil e 7.500 contas cada um. Em meados de 1999, os cinco principais bancos estadunidenses com contas de co-responsáveis tinham 17 bilhões de dólares nessas contas. Os 75 maiores bancos tinham depositados nelas 35 bilhões de dólares.

Esse é o não-sistema. Num informe de 1999 (Mercados internacionais de capital), o Fundo Monetário Internacional (FMI) citava Alan Greenspan, então presidente do Federal Reserve (Banco Central dos EUA): Nós não entendemos completamente a dinâmica do novo sistema.

Mas não interessa entendê-lo. Funciona. E como lava!

O último elo da cadeia

Se nunca houve nem haverá um Plano Holanda, tampouco se pensou jamais numa mera Operação Melchizedek. Ao final da longa cadeia do narcotráfico não há batidas, nem invasões, nem repressões, nem fotos de frente e perfil com número embaixo. Óbvio.

Quem queira, pois, nomes e rostos, deverá levar em conta o bom olfato ou a má língua dos jornalistas. Ou confiar em sua própria perspicácia.

Recordar, por exemplo, que Lucio Gelli, grande capo da Loja P-2, teve por sócio principal o Banco Ambrosiano do Vaticano, lá pelos anos 1970.

Que no escândalo do Bank of Credit and Commerce International (BBCI), sétima instituição bancária no ranking mundial, saíram à luz, em 1991, assuntos tais como financiamento do terrorismo e lavagem de dinheiro, contas pessoais de Manuel Noriega, Saddam Hussein, Ferdinando Marcos, e depósitos da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), do serviço secreto israelense (Mossad) e dos “contra” nicaragüense. E que, com o banco, veio abaixo a gigantesca transnacional de auditorias (auditorias!) Price Waterhouse. E que, nos julgamentos subseqüentes, do lado da defesa de um dos grandes sócios do BBCI, interveio certo escritório entre cujos advogados estava certa Hillary Rodham, mais tarde conhecida, apesar da Lewinsky, como Hillary Clinton.

Que o seríssimo Citibank deixou de sê-lo pelas contínuas investigações e denúncias que o vincularam à prática da lavagem, com diretas referências a regimes altamente corruptos como o do mexicano Carlos Salinas de Gortari, o do peruano Alberto Fujimori e o do filipino Joseph Estrada. Não casualmente, chefes de Estado em países produtores de drogas.

Que, no caso do primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, foi descoberto, em seu vasto conglomerado midiático, uma contabilidade paralela para 64 empresas fantasmas: espécie de super-lavadora para uso pessoal.

Que, enfim, a KBR, gigantesca transnacional da engenharia e da construção, fechou, nesses últimos anos, bilionários contratos em todos esses grandes centros de produção de drogas aqui citados, e nos corredores que vão do Paquistão à Bósnia e da Colômbia ao México. E que sócios-chaves dessa empresa são a família Bush e seu segundo na cadeia de comando, o vice-presidente Dick Cheney.

Por que ou para quê?

Não tem então muito sentido perguntar-se por que os governos que regem o destino do planeta dedicam tanta energia ao tema do narcotráfico e não apontam suas armas contra os quartéis generais dessa indústria. Caberia mais perguntar-se o porquê de botarem tão aparentemente o mundo em pé de guerra contra ele.

Catherine Austin Fitts, uma ex-funcionária do governo de Bush pai, e atualmente diretora de um fundo de inversões em Wall Street, aponta um motivo que ajuda a compreender as razões dessa suposta contradição: cada dólar que se aponta na linha de lucros de uma transnacional como General Motors, Toyota, British Petroleum, por exemplo, representa, automaticamente, por essa estranha lógica do livre mercado, um incremento de seis dólares no valor de suas ações.

Não é pouca coisa, se multiplicamos por seis os 500 bilhões do narcotráfico. Cedidos em empréstimo a juros baixos, ou inclusive em troca simples por ações, são 3 trilhões de dólares. Perfeitamente legais, cambiáveis, usáveis. Em mútuo benefício. Um montante que não convém deixar ao alcance de potenciais competidores.

Disse o renomado jornalista francês Christian de Brie: O abandono das soberanias nacionais e a mundialização liberal que permite aos capitais circular sem controle de um lado a outro do planeta possibilitaram o crescimento explosivo de um mercado financeiro fora da lei, motor da expansão capitalista lubrificado pelos lucros do grande crime (Crime, a maior empresa livre do mundo, em mondediplo.com).

Assim, enquanto os lucros do narcotráfico faz as vezes de motor do seleto grupo de empresas que realmente domina o planeta, e enquanto as guerras lhes permitem apoderar-se para esse ou outros negócios de países inteiros, a raia miúda da droga serve de carne de canhão.

Lá longe, Julio Quispe, Alvaro Jaramillo, Tom Smith ou Jimmy Johnson contam felizes seus parcos lucros, sem saber que são ao mesmo tempo vítimas e propulsores necessaríssimos do neoliberalismo selvagem. Uma droga como qualquer outra.

fonte (brasil de fato)

terça-feira, outubro 14, 2008

consumo elevado de álcool encolhe cérebro

Quanto mais você bebe, mais seu cérebro encolhe, o grupo liderado por Carol Ann Paul, da Faculdade Wellesley, em Massachusetts, comprovou que a bebida ajuda na perda do volume cerebral acarretada pela idade.


Na verdade, os abstêmios convictos tinham a menor perda cerebral. Em seguida, pela ordem, vinham os ex-consumidores, os consumidores moderados e os consumidores abusivos, segundo o artigo publicado na revista Archives of Neurology.

A tendência era mais notável em mulheres do que em homens, o que pode se dever à maior sensibilidade feminina aos efeitos do álcool e à menor massa corporal. "Sabe-se que as pessoas que bebem têm um declínio no volume cerebral. O que eu estava procurando era um efeito protetor nas pessoas que bebem uma a sete doses por semana", disse Paul por telefone.

"Minha expectativa era de que seria protetor. E não foi assim", acrescentou ela, que realizou o estudo quando estava na Escola de Saúde Pública da Universidade de Boston. As conclusões foram baseadas em dados de 1.839 norte-americanos de 33 a 88 anos, que fizeram relatos sobre o seu consumo de álcool e tomografias por ressonância magnética. Eles fazem parte de um estudo mais amplo em andamento em Massachusetts.

Quem bebia mais do que 14 doses por semana tinha o cérebro em média 1% menor do que os abstêmios, segundo os pesquisadores. Em geral, o volume cerebral diminui cerca de 2% por década. A atrofia está vinculada a dificuldades cognitivas e motoras.

Vários estudos indicam os benefícios cardíacos do consumo moderado de álcool, mas o consumo excessivo pode provocar problemas graves e fatais, especialmente no fígado e cérebro.

segunda-feira, outubro 13, 2008

O império do consumo - questões ideológicas


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Autores latino-americanos - Uruguai
Qui, 14 de Agosto de 2008 14:37

Da Agência Carta maior (publicado originalmente em 13 de julho de 2008)

Eduardo Galeano

A explosão do consumo no mundo atual faz mais barulho do que todas as guerras e mais algazarra do que todos os carnavais. Como diz um velho provérbio turco, aquele que bebe a conta, fica bêbado em dobro. A gandaia aturde e anuvia o olhar; esta grande bebedeira universal parece não ter limites no tempo nem no espaço. Mas a cultura de consumo faz muito barulho, assim como o tambor, porque está vazia; e na hora da verdade, quando o estrondo cessa e acaba a festa, o bêbado acorda, sozinho, acompanhado pela sua sombra e pelos pratos quebrados que deve pagar. A expansão da demanda se choca com as fronteiras impostas pelo mesmo sistema que a gera. O sistema precisa de mercados cada vez mais abertos e mais amplos tanto quanto os pulmões precisam de ar e, ao mesmo tempo, requer que estejam no chão, como estão, os preços das matérias primas e da força de trabalho humana. O sistema fala em nome de todos, dirige a todos suas imperiosas ordens de consumo, entre todos espalha a febre compradora; mas não tem jeito: para quase todo o mundo esta aventura começa e termina na telinha da TV. A maioria, que contrai dívidas para ter coisas, termina tendo apenas dívidas para pagar suas dívidas que geram novas dívidas, e acaba consumindo fantasias que, às vezes, materializa cometendo delitos. O direito ao desperdício, privilégio de poucos, afirma ser a liberdade de todos.

Dize-me quanto consomes e te direi quanto vales. Esta civilização não deixa as flores dormirem, nem as galinhas, nem as pessoas. Nas estufas, as flores estão expostas à luz contínua, para fazer com que cresçam mais rapidamente. Nas fábricas de ovos, a noite também está proibida para as galinhas. E as pessoas estão condenadas à insônia, pela ansiedade de comprar e pela angústia de pagar. Este modo de vida não é muito bom para as pessoas, mas é muito bom para a indústria farmacêutica. Os EUA consomem metade dos calmantes, ansiolíticos e demais drogas químicas que são vendidas legalmente no mundo; e mais da metade das drogas proibidas que são vendidas ilegalmente, o que não é uma coisinha à-toa quando se leva em conta que os EUA contam com apenas cinco por cento da população mundial.

«Gente infeliz, essa que vive se comparando», lamenta uma mulher no bairro de Buceo, em Montevidéu. A dor de já não ser, que outrora cantava o tango, deu lugar à vergonha de não ter. Um homem pobre é um pobre homem. «Quando não tens nada, pensas que não vales nada», diz um rapaz no bairro Villa Fiorito, em Buenos Aires. E outro confirma, na cidade dominicana de San Francisco de Macorís: «Meus irmãos trabalham para as marcas. Vivem comprando etiquetas, e vivem suando feito loucos para pagar as prestações».

Invisível violência do mercado: a diversidade é inimiga da rentabilidade, e a uniformidade é que manda. A produção em série, em escala gigantesca, impõe em todas partes suas pautas obrigatórias de consumo. Esta ditadura da uniformização obrigatória é mais devastadora do que qualquer ditadura do partido único: impõe, no mundo inteiro, um modo de vida que reproduz seres humanos como fotocópias do consumidor exemplar.

O consumidor exemplar é o homem quieto. Esta civilização, que confunde quantidade com qualidade, confunde gordura com boa alimentação. Segundo a revista científica The Lancet, na última década a «obesidade mórbida» aumentou quase 30% entre a
população jovem dos países mais desenvolvidos. Entre as crianças norte-americanas, a obesidade aumentou 40% nos últimos dezesseis anos, segundo pesquisa recente do Centro de Ciências da Saúde da Universidade do Colorado. O país que inventou as comidas e bebidas light, os diet food e os alimentos fat free, tem a maior quantidade de gordos do mundo. O consumidor exemplar desce do carro só para trabalhar e para assistir televisão. Sentado na frente da telinha, passa quatro horas por dia devorando comida plástica.

Vence o lixo fantasiado de comida: essa indústria está conquistando os paladares do mundo e está demolindo as tradições da cozinha local. Os costumes do bom comer, que vêm de longe, contam, em alguns países, milhares de anos de refinamento e diversidade e constituem um patrimônio coletivo que, de algum modo, está nos fogões de todos e não apenas na mesa dos ricos. Essas tradições, esses sinais de identidade cultural, essas festas da vida, estão sendo esmagadas, de modo fulminante, pela imposição do saber químico e único: a globalização do hambúrguer, a ditadura do fast food. A plastificação da comida em escala mundial, obra do McDonald´s, do Burger King e de outras fábricas, viola com sucesso o direito à autodeterminação da cozinha: direito sagrado, porque na boca a alma tem uma das suas portas.

A Copa do Mundo de futebol de 1998 confirmou para nós, entre outras coisas, que o cartão MasterCard tonifica os músculos, que a Coca-Cola proporciona eterna juventude e que o cardápio do McDonald´s não pode faltar na barriga de um bom atleta. O imenso exército do McDonald´s dispara hambúrgueres nas bocas das crianças e dos adultos no planeta inteiro. O duplo arco dessa M serviu como estandarte, durante a recente conquista dos países do Leste Europeu.

As filas na frente do McDonald´s de Moscou, inaugurado em 1990 com bandas e fanfarras, simbolizaram a vitória do Ocidente com tanta eloqüência quanto a queda do Muro de Berlim. Um sinal dos tempos: essa empresa, que encarna as virtudes do mundo livre, nega aos seus empregados a liberdade de filiar-se a qualquer sindicato. O McDonald´s viola, assim, um direito legalmente consagrado nos muitos países onde opera. Em 1997, alguns trabalhadores, membros disso que a empresa chama de Macfamília, tentaram sindicalizar-se em um restaurante de Montreal, no Canadá: o restaurante fechou. Mas, em 98, outros empregados do McDonald´s, em uma pequena cidade próxima a Vancouver, conseguiram essa conquista, digna do Guinness.

As massas consumidoras recebem ordens em um idioma universal: a publicidade conseguiu aquilo que o esperanto quis e não pôde.

Qualquer um entende, em qualquer lugar, as mensagens que a televisão transmite. No último quarto de século, os gastos em propaganda dobraram no mundo todo. Graças a isso, as crianças pobres bebem cada vez mais Coca-Cola e cada vez menos leite e o tempo de lazer vai se tornando tempo de consumo obrigatório. Tempo livre, tempo prisioneiro: as casas muito pobres não têm cama, mas têm televisão, e a televisão está com a palavra. Comprado em prestações, esse animalzinho é uma prova da vocação democrática do progresso: não escuta ninguém, mas fala para todos.

Pobres e ricos conhecem, assim, as qualidades dos automóveis do último modelo, e pobres e ricos ficam sabendo das vantajosas taxas de juros que tal ou qual banco oferece. Os especialistas sabem transformar as mercadorias em mágicos conjuntos contra a solidão. As coisas possuem atributos humanos: acariciam, fazem companhia, compreendem, ajudam, o perfume te beija e o carro é o amigo que nunca falha. A cultura do consumo fez da solidão o mais lucrativo dos mercados.

Os buracos no peito são preenchidos enchendo-os de coisas, ou sonhando com fazer isso. E as coisas não só podem abraçar: elas também podem ser símbolos de ascensão social, salvo-condutos para atravessar as alfândegas da sociedade de classes, chaves que abrem as portas proibidas. Quanto mais exclusivas, melhor: as coisas escolhem você e salvam você do anonimato das multidões. A publicidade não informa sobre o produto que vende, ou faz isso muito raramente. Isso é o que menos importa. Sua função primordial consiste em compensar frustrações e alimentar fantasias. Comprando este creme de barbear, você quer se transformar em quem?

O criminologista Anthony Platt observou que os delitos das ruas não são fruto somente da extrema pobreza. Também são fruto da ética individualista. A obsessão social pelo sucesso, diz Platt, incide decisivamente sobre a apropriação ilegal das coisas. Eu sempre ouvi dizer que o dinheiro não trás felicidade; mas qualquer pobre que assista televisão tem motivos de sobra para acreditar que o dinheiro trás algo tão parecido que a diferença é assunto para especialistas.

Segundo o historiador Eric Hobsbawm, o século XX marcou o fim de sete mil anos de vida humana centrada na agricultura, desde que apareceram os primeiros cultivos, no final do paleolítico. A população mundial torna-se urbana, os camponeses tornam-se cidadãos. Na América Latina temos campos sem ninguém e enormes formigueiros urbanos: as maiores cidades do mundo, e as mais injustas. Expulsos pela agricultura moderna de exportação e pela erosão das suas terras, os camponeses invadem os subúrbios. Eles acreditam que Deus está em todas partes, mas por experiência própria sabem que atende nos grandes centros urbanos.

As cidades prometem trabalho, prosperidade, um futuro para os filhos. Nos campos, os esperadores olham a vida passar, e morrem bocejando; nas cidades, a vida acontece e chama. Amontoados em cortiços, a primeira coisa que os recém chegados descobrem é que o trabalho falta e os braços sobram, que nada é de graça e que os artigos de luxo mais caros são o ar e o silêncio.

Enquanto o século XIV nascia, o padre Giordano da Rivalto pronunciou, em Florença, um elogio das cidades. Disse que as cidades cresciam «porque as pessoas sentem gosto em juntar-se». Juntar-se, encontrar-se. Mas, quem encontra com quem? A esperança encontra-se com a realidade? O desejo, encontra-se com o mundo? E as pessoas, encontram-se com as pessoas?Se as relações humanas foram reduzidas a relações entre coisas, quanta gente encontra-se com as coisas?

O mundo inteiro tende a transformar-se em uma grande tela de televisão, na qual as coisas se olham mas não se tocam. As mercadorias em oferta invadem e privatizam os espaços públicos.

Os terminais de ônibus e as estações de trens, que até pouco tempo atrás eram espaços de encontro entre pessoas, estão se transformando, agora, em espaços de exibição comercial. O shopping center, o centro comercial, vitrine de todas as vitrines, impõe sua presença esmagadora. As multidões concorrem, em peregrinação, a esse templo maior das missas do consumo. A maioria dos devotos contempla, em êxtase, as coisas que seus bolsos não podem pagar, enquanto a minoria compradora é submetida ao bombardeio da oferta incessante e extenuante. A multidão, que sobe e desce pelas escadas mecânicas, viaja pelo mundo: os manequins vestem como em Milão ou Paris e as máquinas soam como em Chicago; e para ver e ouvir não é preciso pagar passagem. Os turistas vindos das cidades do interior, ou das cidades que ainda não mereceram estas benesses da felicidade moderna, posam para a foto, aos pés das marcas internacionais mais famosas, tal e como antes posavam aos pés da estátua do prócer na praça.

Beatriz Solano observou que os habitantes dos bairros suburbanos vão ao center, ao shopping center, como antes iam até o centro. O tradicional passeio do fim-de-semana até o centro da cidade tende a ser substituído pela excursão até esses centros urbanos. De banho tomado, arrumados e penteados, vestidos com suas melhores galas, os visitantes vêm para uma festa à qual não foram convidados, mas podem olhar tudo. Famílias inteiras empreendem a viagem na cápsula espacial que percorre o universo do consumo, onde a estética do mercado desenhou uma paisagem alucinante de modelos, marcas e etiquetas.

A cultura do consumo, cultura do efêmero, condena tudo à descartabilidade midiática. Tudo muda no ritmo vertiginoso da moda, colocada à serviço da necessidade de vender. As coisas envelhecem num piscar de olhos, para serem substituídas por outras coisas de vida fugaz. Hoje, quando o único que permanece é a insegurança, as mercadorias, fabricadas para não durar, são tão voláteis quanto o capital que as financia e o trabalho que as gera. O dinheiro voa na velocidade da luz: ontem estava lá, hoje está aqui, amanhã quem sabe onde, e todo trabalhador é um desempregado em potencial.

Paradoxalmente, os shoppings centers, reinos da fugacidade, oferecem a mais bem-sucedida ilusão de segurança. Eles resistem fora do tempo, sem idade e sem raiz, sem noite e sem dia e sem memória, e existem fora do espaço, além das turbulências da perigosa realidade do mundo.

Os donos do mundo usam o mundo como se fosse descartável: uma mercadoria de vida efêmera, que se esgota assim como se esgotam, pouco depois de nascer, as imagens disparadas pela metralhadora da televisão e as modas e os ídolos que a publicidade lança, sem pausa, no mercado. Mas, para qual outro mundo vamos nos mudar? Estamos todos obrigados a acreditar na historinha de que Deus vendeu o planeta para umas poucas empresas porque, estando de mau humor, decidiu privatizar o universo? A sociedade de consumo é uma armadilha para pegar bobos.

Aqueles que comandam o jogo fazem de conta que não sabem disso, mas qualquer um que tenha olhos na cara pode ver que a grande maioria das pessoas consome pouco, pouquinho e nada, necessariamente, para garantir a existência da pouca natureza que nos resta. A injustiça social não é um erro por corrigir, nem um defeito por superar: é uma necessidade essencial. Não existe natureza capaz de alimentar um shopping center do tamanho do planeta.

Tradução: Verso Tradutores

Fonte: Agência Carta Maior

quinta-feira, outubro 09, 2008

Quando se trata de Palestina e Israel, os EUA simplesmente não entendem nada*


Robert Fisk

Os palestinos deixaram de existir nos EUA, 3ª-feira à noite. Joe Biden e Sarah Palin deram jeito e não pronunciaram a palavra-veneno. “Palestina” e “palestinos” – conceitos cancerosos, escorregadios, perigosos – simplesmente viraram inexistentes, no debate dos candidatos à vice-presidência.

A expressão “ocupação por Israel” deus seja servido não apareceu. Nem “colônia de judeus” nem “assentamento de judeus” – sequer “vizinhança israelense”, invenção acovardada do jornalismo norte-americano – deram o ar de sua graça. Nada.

Aqueles audazes competidores pela vice-presidência dos EUA, tão rápidos ao demonstrar tanta audácia no que tenha a ver com “defesa”, esconderam-se como coelhos, fugindo do epicentro do terremoto do Oriente Médio: a existência de um povo na Palestina. Claro, falou-se de uma solução “Dois Estados”, mas só para enganar, porque ninguém entende a Região.

Biden bem que quase pareceu provocar George Bush, que teria pressionado a favor das “eleições” – outra vez, ficou faltando a parte “na Palestina” – que levou à vitória do Hamás. Mas foi como se o Hamás só existisse em alguma terra-do-nunca-nunca, vasta paisagem que gradualmente se vai convertendo em desertos negros imensos que se estendem, na imaginação dos políticos norte-americanos, do Mediterrâneo ao Paquistão.

“Os mísseis (nucleares) paquistaneses já podem atingir Israel”, trovejou Biden. Mas… que conversa é essa?! O Paquistão não ameaçou Israel. Que se saiba, o Paquistão é aliado dos EUA. Os dois candidatos pareciam pensar que seu aliado na “guerra ao terror” teria virado a casaca e ter-se-ia coligado ao eixo do mal. Nem o Islam escapa à tentação.

Um dos boletins mais engraçados da semana, mais uma investigação sobre a educação de Obama, veio da agência de notícias Associated Press. O aspirante à presidência, anunciou a Associated Press, freqüentou escola muçulmana, mas não “praticou” o Islam.

Que diabo significa isso?!, pensei comigo. A Associated Press noticiaria, por exemplo, que McCain freqüentou escola cristã, mas não “praticou” a cristandade? Então, entendi. Obama fumou Islam, mas não tragou.

Viajando pelos EUA essa semana – de Seattle a Houston e Washington e daí a Nova York – por toda parte tropecei nos efeitos do terror induzido pela Casa Branca. Num almoço, uma senhora bem-educada, de classe média alta, virou-se para mim e contou-me sobre seu medo, “porque o Islam quer tomar a América”. Quando tentei sugerir que assim, francamente, já era demais, ela informou-me que “os muçulmanos já tomaram a França”.

Como se responde a uma coisa dessas? É como ser informado por alguém pressuposto racional e são de que os marcianos pousaram ontem no Tennessee. Tive de usar o golpe do velho Fisk, quando cercado por adeptos da religião do “digamos que George Bush inventou o 11/9”. Olhei o relógio, adotei cara de susto e gritei: “Tô atrasado!”

Falando sério. Lá estava Biden, na 3ª à noite, contando que na faixa de fronteira entre o Paquistão e o Afeganistão – referia-se, é claro, à antiga fronteira traçada por Sir Mortimer Durrand, considerada peça de ficção pelos pashtuns (e, portanto, por todos os taliban) – “foram construídas 7.000 madrassas ... numa das quais mora bin Laden, onde o procuraríamos, se tivéssemos realmente inteligência (sic)”.

Sete mil? De onde, santo deus, saiu esse número? Sim, há milhares de escolas religiosas no Paquistão – mas não todas, é claro, na fronteira. Em outro extraordinário golpe de inventar mitos, o homem de Obama disse que “chutamos o Hizbóllah para fora do Líbano” – o que é perfeita mentira.

E, é claro, Israel – palavra que deve ser pronunciada, repetidamente, quanto mais, melhor, por todos os candidatos nos EUA – é o centro que mantém equilibrado todo o Oriente Médio, “nação pacífica e amante da paz, nosso melhor e mais forte aliado no Oriente Médio” (Palin falando)..., que ninguém “defendeu mais aplicadamente, no Senado dos EUA, que Joe Biden” (Biden falando).

Israel estaria “sob grave risco” se os EUA conversassem com o Iran”, Palin revelou. “Temos de garantir a Israel que jamais permitiremos um segundo Holocausto”. E outra vez acordaram o cadáver de Hitler – exatamente como McCain operou a ressurreição das sombras da II Guerra Mundial, quando cacarejou sobre o senso de responsabilidade de Eisenhower antes do Dia D. Que Israel pode defender-se muito adequadamente com 264 ogivas nucleares, é claro, ninguém disse, porque ver e fazer ver o real poder de Israel destrói a imagem de país pequeno e vulnerável, cuja defesa depende dos EUA.

Os israelenses merecem viver em segurança. Mas onde está a segurança que devemos garantir aos palestinos? Onde se meteu a simpatia com que os norte-americanos considerariam qualquer outro povo que viva hoje sob ocupação? Dessa simpatia, desnecessário dizer, não se viu nem rastro. Porque temos de endurecer, preparando-nos para a próxima guerra contra o mundo do mal no Paquistão.

Biden chegou a “exigir” governo “estável” em Islamabad, o que beira a total hipocrisia, poucos dias depois de soldados dos EUA terem invadido a fronteira legal e soberana do Paquistão e explodido uma casa que, disseram, seria usada pelos taliban. E disse o General David Petraeus ao The New York Times essa semana, “Andamos na direção errada, no Afeganistão (...). Será muito difícil retomar o controle em várias áreas que os taliban reocuparam”.

É uma situação esquisitíssima. Obama e Biden querem dar por concluída a operação Iraque e re-conquistar o Afeganistão. Para a Escola Palin de Clichês, tratar-se-ia de “aceitar a bandeira branca da rendição no Iraque”, ao mesmo tempo em que continua a alertar contra os perigos que vêm do Iran, onde só o nome daquele presidente ensandecido, Ahmadinejad, bastou para derrotar McCain, no pseudo debate da semana passada, três vezes.

E é sempre a mesma velha história. A única lição que aprendemos nos EUA, nessas duas semanas, citando “Oh! Que delícia de guerra”, de Joan Littlewood, é que a guerra continua.

* ROBERT FISK © The Independent, UK. Na internet, em http://www.independent.co.uk/opinion/commentators/fisk/robert-fisks-world-when-it-comes-to-palestine-and-israel-the-us-simply-doesnt-get-it-950812.html.

Noticias más silenciadas por la prensa

(1) La prensa y la televisión estadounidense y mundial minimizan las protestas contra las guerras que se libran en Medio Oriente. (2) El genocidio en Iraq ha sido ocultado por los grandes medios. (3) Mapa político varía en América Latina a favor de las nuevas ideas. (4) Multinacionales militarizan zona de libre comercio en Norteamérica.




























El genocidio en Iraq, con 1,2 millones de civiles muertos por las tropas estadounidenses desde que comenzó la invasión hace cinco años es el tema que encabeza el ranking anual de las 25 noticias más ocultadas por la gran prensa de EEUU y del mundo en 2007/2008, según “Censored 2009”, el informe del Proyecto Censurado de la Universidad Sonoma State de California.

Además de las 25 historias más censuradas, el libro contiene valiosos trabajos académicos sobre la situación actual del periodismo, nuevas visiones del cambiante mapa de la gran concentración de la propiedad mediática y análisis de contenido sobre lo sesgado de la información en diversos temas.

El Proyecto Censurado, que dirige el sociólogo Peter Phillips, indaga desde hace 33 años las 25 noticias más relevantes que nunca fueron puestas a disposición del público por los grandes medios de comunicación corporativos que hoy ejercen el control mediático mundial.

América Latina está presente en varios trabajos. Por ejemplo, los periodistas Laura Carlsen, Stephen Lendman y Constance Fogal investigaron cómo el espacio económico del Tratado de Libre Comercio de América del Norte o NAFTA, que incluye a EEUU, México y Canadá, se está convirtiendo en un espacio militarizado a cargo del Comando Norte estadounidense.

Otra noticia absolutamente desatendida por los grandes medios es el posible nuevo cambio del mapa político de América Latina que puede darse en 2009 en favor de las ideas progresistas.

Matanza de civiles
Éste es un resumen de las 10 primeras historias más censuradas expuestas en el mismo orden del Proyecto Censurado:

1) La ocupación de EEUU mata a más de un millón de iraquíes (por Michael Schwartz, Joshua Holland, Luke Baker, Maki al-Nazzal y Dahr Jamail): Las tropas estadounidenses han dado muerte a 1,2 millones de civiles iraqueses desde que comenzó la invasión hace cinco años, según el grupo británico de investigación Opinion Research Business (ORB).

Estas cifras hacen rivalizar la invasión y ocupación de Iraq con las grandes matanzas del siglo pasado, como el terrible balance de hasta 900,000 seres humanos que se cree mataron en el genocidio de Ruanda en 1994 y está acercándose al 1’700,000 que murió en Camboya bajo el Khmer Rouge, en los ‘70.

2) EEUU, Canadá y México militarizan el NAFTA (por Laura Carlsen, Stephen Lendman y Constance Fogal): El espacio económico del Tratado de Libre Comercio de América del Norte, que agrupa a EEUU, Canadá y México se está convirtiendo en un espacio militarizado controlado por el Comando Norte estadounidense, “seguro para los negocios” e inmune al terrorismo, llamado Sociedad de la Seguridad y la Prosperidad (SPP, en inglés).

Las corporaciones transnacionales promotoras de esta conjunción de apariencia trinacional, pero verdaderamente “supranacional”, son viejas conocidas: la General Electric, Ford Motors, General Motors, Wal-Mart, Lockheed-Martin, Merck, Chevron y otras mega compañías. La SPP, que apunta a integrar a las tres naciones en un solo bloque político, económico y de seguridad al mando de Washington.

Licencia para matar
3) El FBI ofrece licencia para matar (por Matthew Rothschild): El gobierno estadounidense recluta negocios e individuos que se integran a InfraGard, una importante pieza en la compleja estructura de un panóptico industrial destinado a acechar a la sociedad de la vigilancia que construye Washington.

Más de 23,000 pequeños y medianos empresarios del comercio y la industria estadounidense trabajan silenciosamente con el FBI y el departamento de Seguridad de la Patria (DHS, en inglés) en la recolección y suministro de información sobre las amistades de los estadounidenses. En recompensa, los miembros de InfraGard, que es el nombre de este grupo, reciben advertencias secretas sobre amenazas terroristas mucho antes que el público y, ocasionalmente, antes que ciertos funcionarios.

4) ILEA: ¿Resurgen las guerras sucias de EEUU en América Latina? (por Comunidad en Solidaridad con el Pueblo de El Salvador, Wes Enzinna y Benjamin Dangl): La vieja Escuela de las Américas revivió en El Salvador como Academia Internacional de Aplicación del Derecho (ILEA, en inglés), con una base satélite en el Perú y 16,5 millones de dólares del presupuesto federal 2008 de EEUU.

La ILEA, con inmunidad ante probables crímenes contra la humanidad, entrena anualmente en "técnicas antiterroristas" a 1,500 oficiales de policía, jueces, fiscales y otros “funcionarios de la ley” de América Latina, mientras el viejo militarismo de EEUU amenaza de nuevo la paz y la democracia en la región y aumenta la ayuda militar, que en 2005 creció 34 veces respecto a 2000.

Requisa de bienes
5) Apoderándose de los bienes de los manifestantes contra la guerra (por Michel Chossudovsky y Matthew Rothschild): Bush firmó dos órdenes ejecutivas que facultan al Departamento del Tesoro para apoderarse de los bienes de quien sea percibido como amenaza para las operaciones en Oriente Medio, inclusive sus niños.

La primera, "Bloqueando las propiedades de personas que amenazan los esfuerzos de estabilización en Iraq", firmada el 17 de julio de 2007, autoriza al Departamento de Hacienda, en consulta con el Departamento de Estado y el Pentágono, a confiscar bienes de ciudadanos y organizaciones de EEUU que "directa o indirectamente" amenacen las operaciones en Iraq. La segunda, "Bloqueando la propiedad de personas que minan la soberanía del Líbano, sus procesos e instituciones democráticas", del 1 de agosto, es casi idéntica pero más severa. Sin el derecho al debido proceso, la secretaría de Hacienda puede apoderarse de las propiedades de cualquiera que se oponga vagamente a la agenda de EEUU o arbitrariamente se le atribuya riesgo de violencia.

6) Derrota de la ley contra el “terrorismo doméstico de cosecha propia” (por Jessica Lee, Lindsay Beyerstein y Matt Renner): Una buena noticia es que parece haber fracasado otra ley “antiterrorismo doméstico”, esta vez contra ciudadanos de ascendencia árabe o que profesen la fe islámica, sectores opuestos a la globalización y también críticos de la versión oficial del desplome de las Torres Gemelas y del Edificio Nº 7 el 11 de septiembre de 2001 en Nueva York.

La legislación, que también es una afrenta a las libertades estadounidenses de expresión, al uso libre de Internet, a la privacidad y asociación, fue aprobada por 404-6 –casi por unanimidad– en la Casa de Representantes, pero el Senado la dejó de lado, contrariando a sus dos principales promotores bipartidarios: la congresista demócrata por California Jane Harman, jefa del Subcomité de Inteligencia, Información Compartida y Riesgo de Terrorismo, y el senador republicano por Connecticut Joseph Lieberman, presidente de los comités de Seguridad de la Patria y Asuntos Gubernamentales. Entretanto, Lieberman ha tratado de llevar la censura al popular YouTube, de Google.

Como esclavos
7) Guest Workers Inc.: fraude y tráfico humano (por Mary Bauer, Sarah Reynolds, Felicia Mello y Chidanand Rajghatta): El sistema del “trabajador invitado” que emigra a trabajar a EEUU contratado en sus países de origen resulta lo más parecido a la esclavitud del siglo 21, según el congresista demócrata por Harlem Charles Rangel. El programa, que victimiza a los trabajadores inmigrantes pero ha sido elogiado y recomendado por Bush, es probable que sirva de plantilla para futuras reformas de la inmigración.

Bush y las órdenes secretas
Otro artículo se refiere a que las órdenes presidenciales pueden cambiarse en secreto (por Sheldon Whitehouse [Senador de EEUU] y Marcy Wheeler): El senador Sheldon Whitehouse, demócrata por Rhode Island y miembro del Comité de Inteligencia del Senado, informó haber desclasificado tres documentos jurídicos de la Oficina de Consejos Legales del Ministerio de Justicia que revelan que el presidente Bush gobierna con Órdenes Ejecutivas secretas que tienen preeminencia sobre el Congreso, el Poder Judicial, el Ministerio de Justicia y todo el sistema jurídico estadounidense.

Ernesto Carmona
(Especial para ARGENPRESS.info)

segunda-feira, outubro 06, 2008

Viúva de Paulo Freire, repudia a "veja"

TEXTO DA VEJA (editorial)


'...Muitos professores brasileiros se encantam com personagens que em classe mereceriam um tratamento mais crítico, como o guerrilheiro argentino Che Guevara, que na pesquisa aparece com 86% de citações positivas, 14% de neutras e zero, nenhum ponto negativo. Ou idolatram personagens arcanos sem contribuição efetiva à civilização ocidental, como o educador Paulo Freire, autor de um método de doutrinação esquerdista disfarçado de alfabetização...



Diante disso a viúva de Paulo Freire, Nita, escreveu a seguinte carta de repúdio á VEJA:

'Como educadora, historiadora, ex-professora da PUC e da Cátedra Paulo Freire e viúva do maior educador brasileiro PAULO FREIRE - e um dos maiores de toda a história da humanidade -, quero registrar minha mais profunda indignação e repúdio ao tipo de jornalismo, que, a cada semana a revista VEJA oferece às pessoas ingênuas ou mal intencionadas de nosso país. Não a leio por princípio, mas ouço comentários sobre sua postura danosa através do jornalismo crítico. Não proclama sua opção em favor dos poderosos e endinheirados da direita, mas, camufladamente, age em nome do reacionarismo desta.

Esta vem sendo a constante desta revista desde longa data: enodoar pessoas as quais todos nós brasileiros deveríamos nos orgulhar. Paulo, que dedicou seus 75 anos de vida lutando por um Brasil melhor, mais bonito e mais justo, não é o único alvo deles. Nem esta é a primeira vez que o atacam. Quando da morte de meu marido, em 1997, o obituário da revista em questão não lamentou a sua morte, como fizeram todos os outros órgãos da imprensa escrita, falada e televisiva do mundo, apenas reproduziu parte de críticas anteriores a ele feitas.

A matéria publicada no nº 2074, de 20/8/2008, conta, lamentavelmente com o apoio do filósofo Roberto Romano que escreve sobre ética, certamente em favor da ética do mercado, contra a ética da vida criada por Paulo. Esta não é, aliás, sua primeira investida sobre alguém que é conhecido no mundo por sua conduta ética verdadeiramente humanista.

Inadmissivelmente, a matéria é elaborada por duas mulheres, que, certamente para se sentirem e serem parceiras do "filósofo" e aceitas pelos neoliberais desvirtuam o papel do feminino na sociedade brasileira atual.

Com linguagem grosseira, rasteira e irresponsável, elas se filiam à mesma linha de opção política do primeiro, falam em favor da ética do mercado, que tem como premissa miserabilizar os mais pobres e os mais fracos do mundo, embora para desgosto deles, estamos conseguindo, no Brasil, superar esse sonho macabro reacionário.

Superação realizada não só pela política federal de extinção da pobreza, mas , sobretudo pelo trabalho de meu marido – no qual esta política de distribuição da renda se baseou - que demonstrou ao mundo que todos e todas somos sujeitos da história e não apenas objeto dela.

Nas 12 páginas, nas quais proliferam um civismo às avessas e a má apreensão da realidade, os participantes e as autoras da matéria dão continuidade às práticas autoritárias, fascistas, retrógradas da cata às bruxas dos anos 50 e da ótica de subversão encontrada em todo ato humanista no nefasto período da Ditadura Militar.

Para satisfazer parte da elite inescrupulosa e de uma classe média brasileira medíocre que tem a Veja como seu "Norte" e "Bíblia", esta matéria revela quase tão somente temerem as idéias de um homem humilde, que conheceu a fome dos nordestinos, e que na sua altivez e dignidade restaurou a esperança no Brasil.

Apavorada com o que Paulo plantou, com sacrifício e inteligência, a Veja quer torná-lo insignificante e os e as que a fazem vendendo a sua força de trabalho, pensam que podem a qualquer custo, eliminar do espaço escolar o que há de mais importante na educação das crianças, jovens e adultos: o pensar e a formação da cidadania de todas as pessoas de nosso país, independentemente de sua classe social, etnia, gênero, idade ou religião.

Querendo diminuí-lo e ofendê-lo, contraditoriamente a revista Veja nos dá o direito de concluir que os pais, alunos e educadores escutaram a voz de Paulo, a validando e praticando. Portanto, a sociedade brasileira está no caminho certo para a construção da autêntica democracia. Querendo diminuí-lo e ofendê-lo, contraditoriamente a revista Veja nos dá o direito de proclamar que Paulo Freire Vive!

São Paulo, 11 de setembro de 2008 Ana Maria Araújo Freire."