musica con sentido e sentimiento

quinta-feira, fevereiro 12, 2009

O que fazem lembra a ditadura, os presos sumiam, como acontece com os adolescentes.


por Carolina Rossetti de Toledo

A dona-de-casa paulistana Solange Prudes Moura Queiróz, 51 anos, perdeu o filho Sidney enquanto ele estava sob a guarda da Febem (atual Fundação Casa). Sidney Moura Queiróz foi internado pela primeira vez aos 15 anos devido a envolvimento com drogas. Lá já apanhou muito. Espancado na unidade de Franco da Rocha, Grande São Paulo, denunciou os funcionários, no episódio “banho de sangue”, maio de 2003. Em setembro aparece na cela com queimaduras no tronco – “é para matar”, diz Solange indignada.

Cinco anos depois da morte de Sidney encontro Solange acusando o Estado brasileiro pela violação dos direitos humanos, no Tribunal Popular realizado na Faculdade de Direito São Francisco da Universidade de São Paulo. Ela é ativista da Associação de Mães e Amigos da Criança e do Adolescente em Risco (Amar), que fiscaliza as atividades da Fundação Casa. Eis a sua história.

Depois que meu filho saiu da unidade Tatuapé, praticou um assalto. Se tornou reincidente, foi mandado para Franco da Rocha. Ele foi um dos meninos que denunciou ao Ministério Público as torturas sofridas lá dentro. Quando tinha visita eu disfarçava e entrava na cela, os meninos estavam arrebentados, com rachaduras na cabeça, braço quebrado, perna quebrada. Era horrível. Meu filho apanhou de barra de ferro, pau. Mães me contaram que viram funcionários segurando meu filho, no pátio, com uma corrente com um cadeadão na ponta e batendo, e ele pedindo socorro. Sidney me contou que todas as unidades tinham entrado em rebelião, só a dele não. E entraram porque um funcionário pegou um dos adolescentes, e levaram para trás da casa e começaram a bater.

Cheguei a ir ao fórum pedir a transferência para o meu filho. Uma vez ele me falou: “Eu errei, tenho que pagar, mas não desse jeito, sendo espancado, humilhado.” Foi quando apareceram os homens de preto, o MIB, hoje é “choquinho”, os meninos morriam de medo daqueles caras com aquelas máscaras pretas. Chegaram na unidade C em que tava meu filho, entraram batendo. Os meninos da B ouviram, começaram a chutar as portas. Esse dia ficou conhecido como “banho de sangue”.

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