musica con sentido e sentimiento

terça-feira, janeiro 15, 2008


O assasino dos paises pobres


Não é ficção. Mas daria um filme: em 1968, o americano John Perkins saiu da faculdade de economia com os mesmos sonhos de qualquer americano típico – casar, ter família, vencer na vida. Uma única coisa o diferenciava, a vontade de conhecer o mundo e, talvez mais importante, a oportunidade de recrutamento oferecida por um amigo de seu sogro, o “Tio Frank”, figurão da Agência Nacional de Segurança dos EUA. Para isso, o jovem Perkins submeteu- se a uma bateria de entrevistas extenuantes que incluíam testes psicológicos e detectores de mentira, antes de ser aconselhado pelo próprio Tio Frank a ser voluntário no Corpo de Paz do Exército americano no Equador. No Equador, ele foi procurado pelo vice-presidente da Chas. T. Main, uma empresa de consultoria internacional, que lhe ofereceu uma vaga – dando a entender que a mando da Agência Nacional de Segurança. Assim, Perkins começou a trabalhar para a Main, que fazia avaliações do potencial de crescimento de países subdesenvolvidos caso organismos como o Banco Mundial concedessem empréstimos vultosos para esses países investirem em obras de infra-estrutura, a ser realizadas por empresas americanas.

Na verdade, o que Perkins fazia era escrever relatórios exageradamente otimistas para balizar empréstimos, prevendo que com isso os países iam fl orescer maravilhosamente. Como lhe explicou sua “professora” Claudine, consultora especial da Main, Perkins se tornava um “sabotador econômico”: “Somos muito bem pagos para enganar países ao redor do mundo e subtrair-lhes bilhões de dólares. Uma grande parte do trabalho é encorajar os líderes mundiais a fazer parte de uma extensa rede de conexões operacionais que promovem os interesses comerciais americanos. No fi nal das contas, tais líderes acabam enredados nessa teia de dívidas que assegura a lealdade deles”. Como sabotador econômico durante toda a década de 70, Perkins conheceu líderes mundiais, freqüentou rodas de ricos empresários, ajudou a selar empréstimos e fechar acordos comerciais na Indonésia, no Panamá, na Arábia Saudita, no Irã e na Colômbia. Foi bem-sucedido em quase todos os países, embora começasse a descobrir também as conseqüências do seu trabalho – a consolidação de um império mundial que empobrece a maioria ao mesmo tempo em que concentra riqueza nas mãos de poucos. Pesou na consciência. Desistiu, andou por outros negócios, até que resolveu escrever um livro, Consciousness of an Economic Hit Man (Consciência de um Sabotador Econômico), no qual contaria, principalmente, que o endividamento de países em desenvolvimento era deliberadamente arquitetado pela Casa Branca para obter o controle desses países. Era 1987, mas o livro não sairia até 2003. Foi interrompido por uma irrecusável “oferta”. Perkins foi convidado para se tornar conselheiro da Stone & Webster Engeneering Company, então uma das maiores empresas de construção do mundo. Seu trabalho: não fazer nada, a não ser deixar de lado qualquer plano de publicar o livro. Passaram-se ainda quinze anos até ruírem as torres gêmeas do World Trade Center, em 11 de setembro de 2001, fato que levou Perkins a rever o seu passado e chegar a um forte sentimento de culpa por ter contribuído para a construção do império que tantos danos causara ao mundo a ponto de provocar reações tão violentas. Retomou então o livro, agora com outro título: Confessions of an Economic Hit Man (Confi ssões de um Sabotador Econômico), lançado no Brasil pela editora Cultrix com o título Confi ssões de um Assassino Econômico (outra tradução possível). Nesta conversa com Caros Amigos, Perkins relembra a sua história e alerta: há hoje muito mais sabotadores (ou assassinos) econômicos do que na sua época.

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